quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Jornalismo forjado




"Uma das principais características do jornalismo no Brasil, hoje, praticado pela maioria da grande imprensa, é a manipulação da informação.

O principal efeito dessa manipulação é que os órgãos de imprensa não refletem a realidade. A maior parte do material que a imprensa oferece ao público tem algum tipo de relação com a realidade. Mas essa relação é indireta. É uma referência indireta à realidade, mas que distorce a realidade. Tudo se passa como se a imprensa se referisse à realidade apenas para apresentar outra realidade, irreal, que é a contrafação  da realidade real. É uma realidade artificial, não real, irreal, criada e desenvolvida pela imprensa e apresentada no lugar da realidade real. A relação entre imprensa  e a realidade é parecida com aquela entre um espelho deformado e um objeto que ele aparentemente reflete: a imagem do espelho tem algo a ver com o objeto, mas não só não é o objeto como também não é a sua imagem; é a imagem de outro objeto que não corresponde ao objeto real.

Assim, o público – a sociedade – é cotidiana e sistematicamente colocado diante de uma realidade artificialmente criada pela imprensa e que se contradiz, se contrapõe e frequentemente  se superpõe e domina a realidade real que ele vive e conhece. Como o público é fragmentado no leitor ou no telespectador  individual, ele só percebe a contradição quando se trata de infinitesimal  parcela de realidade da qual ele é protagonista, testemunha ou agente direto, e que, portanto, conhece. A imensa parte da realidade, ele a capta por meio da imagem artificial e irreal da realidade criada pela imprensa; essa é, justamente a parte da realidade que ele não percebe  diretamente, mas aprende  por conhecimento .

Daí que cada leitor tem, para si, uma imagem da realidade que na sua quase totalidade não é real. É diferente  e até antagonicamente  oposta à realidade. A maior parte dos indivíduos, portanto, move-se num mundo que não existe, e que foi artificialmente  criado para ele justamente a fim de que ele se mova nesse mundo irreal.

A manipulação das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade."
 Perseu Abramo
 No livro: "Padrões de manipulação na grande imprensa"
- um ensaio inédito de Perseu Abramo -
Editora Fundação Perseu Abramo 

1ª edição - 2003.
  
Nosso pensamento a esse respeito:

A função do jornal é prestar um serviço ao seu leitor, ou seja, torná-lo a par dos acontecimentos que ocorrem no meio ambiente. O jornalista é uma pessoas antenada com os acontecimentos  nos diversos setores da vida. Ligado à sua especialidade, pode se tornar grande entendido no assunto,  a ponto de poder até antever acontecimentos decorrentes das ações realizadas pelas pessoas  que protagonizam o setor da vida  coberto por ele.

Desde o esporte, passando pelo entretenimento e cultura, que podem até parecer pautas secundárias  aos olhos dos focados em política e economia,  todas as editorias  são de grande importância na vida de um leitor de jornal, ouvintes de rádio, ou telespectador. 

Mesmo porque, Sua Excelência,  a pessoa que recebe a informação e que, na verdade, justifica o salário recebido, é a razão da existência da profissão. Merece, e é  de suma importância que receba, informações precisas, sobre a realidade em seu entorno; desde o menor círculo ao seu redor à total circunferência do planeta Terra. Há, porém, ainda, pessoas interessadas em assuntos que situam além das galáxias mais distantes. Por isso o jornalismo é uma profissão deveras interessante, além de ser muito importante. Há espaço nas pautas das empresas de comunicação para todas as formas de atuação humana. Desde que o respeito por si mesmo, e à pessoa alvo do seu trabalho, seja de grandíssima importância para o profissional da notícia.

O livro citado acima, leitura obrigatória no meu curso de Jornalismo feito tardiamente, serviu dolorosamente para constatar mais uma forma de corrupção no meu país, que no meu entender é a pior delas: a corrupção do pensamento. 

A leitura desse livro, com o ensinamento a que se propõe, pode ser comparada de a um que reduzisse a medicina às experiências nazistas nos campos de concentração. 

 O que acontece com um jovem que chega, com todo entusiamo, numa escola superior para aprender uma profissão à qual pretende se dedicar pelo menos grande parte da vida e é conduzido à uma realidade forjada pelos manipuladores que usam a questão em si para manipular?

Considerando que as pessoas que aplicam o método e cultuam seus autores como se fossem santos, se mostrem num pedestal de autoridade máxima no assunto, enquanto são caladas as raramente existentes vozes que  ousem  se referir à ideias antagônicas, torna o assunto um caso de alta violência. Isso acontecendo num ambiente chamado “Universidade” no  qual se entende que deveria acontecer o saudável debate das mais variadas ideias, agrava fortemente.

 O fato da maioria dos jornalistas de hoje ser fruto de tais ensinamentos, pode  contextualizar a fala do ex-presidente Lula: “Se tem uma coisa de que me orgulho é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu”. Afinal, ele encontra na grande imprensa ambiente favorável para dizer tal frase e  pode vê-la  ser amplamente divulgada pelos mesmos jornalistas que publicam, diariamente, grande número de crimes de lesa-pátria  atribuídos a pessoas sob a sua liderança. 

Diante da naturalidade com que se coloca grande parte dos jornalistas perante as notícias que conduzem à desesperança de honestidade nos gestores da vida pública, o jornalismo forjado sob tal visão de mundo e da profissão, vista apenas como um suporte aos crimes dos protagonistas do status quo, dá respaldo à impunidade enquanto 'apazigua' o cidadão: leitor, ouvinte e telespectador, numa geléia feita de informações filtradas conduzidas e manipuladas, como Perseu Abramo e seus pares  ensinaram. Será que têm consciência desse fato?

 Giselle Neves Moreira de Aguiar

Nenhum comentário:

Postar um comentário