quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

1992 e 2015






Existem diferenças muito significativas entre o processo de impeachment sofrido pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e o que se inicia agora contra a presidente Dilma Rousseff. 

Os fatos relevantes acontecidos na época em que ocorreu o de Collor podem ser conhecidos ou lembrado no acervo online  do Jornal “O Estado de São Paulo”; entre eles destacamos alguns vistos como mais importantes e necessários para uma análise bem embasada do que hoje acontece.

Oficialmente o fato teve origem na renúncia coletiva do ministério devido a acusações de corrupções em 30 de março de 1992.  Em maio,  a revista 'Veja' publica a delação, feita pelo próprio irmão do então presidente,  de que PC Farias, ex-tesoureiro da campanha  presidencial, teria sete empresas no exterior, com a conivência de Collor.

Nessa altura dos acontecimentos,  segundo o ‘Estadão’, “A Câmara dos Deputados estabeleceu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar as denúncias. Na mesma época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e partidos de oposição realizaram uma manifestação chamada de “Vigília pela Ética na Política”, para pressionar os congressistas a checar devidamente os fatos e punir os envolvidos.” Observemos aqui o interesse das instituições em livrar o país do  nefasto, perigoso e muito danoso, crime de corrupção.

No mesmo dia, 29 de junho de 1992, os jornais “A Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo” pediam a renúncia do presidente, antes mesmo da entrevista com o  seu motorista, Eriberto França, ser publicada na revista “Isto é”; aquela,  que trouxe à baila o  motivo concreto para o impeachment: a compra de um ‘FIAT Elba’ com dinheiro de sobras de campanha. 

Multidões, capitaneadas por estudantes,  foram às  ruas gritando “Fora Collor”. 

Em primeiro de setembro A OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, e a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, nas pessoas de seus então presidentes: Marcello Lavenière, e Barbosa Lima Sobrinho, respectivamente, entraram com o pedido de impeachment do presidente na Câmara dos Deputados, que foi prontamente aceito. A OAB considerava  robustos os indícios de corrupção,  e de gravidade tal a ponto de assumir a co-autoria do pedido. A  ABI esqueceu a imparcialidade pedida na conduta de jornalística e também se destacava assinando o pedido.

Aqui cabe a pergunta: em que diferem as situações de ocorrência dos processos de impeachment, o de Collor e o de Dilma? Aos olhos de uma pessoa comum do povo, que acompanha os acontecimentos, poucas diferenças existem entre os fatos que os motivam;  parecem mais os mesmos,  diferindo apenas em intensidade e volume de acusações, provas, envolvimento de pessoas, e principalmente em desvios do dinheiro público. Em quantidade e volume dos danos causados à população do país eles parecem muitíssimo distantes...

No entanto, o posicionamento da OAB no caso Dilma foi dizer que não há motivos legais para o impedimento.  O comportamento da ABI pode ser avaliado pela posição da grande mídia na sua confortável posição de morde e assopra, embalada pelas gordas contas publicitárias das empresas estatais. 

A CUT já anuncia que vai para as ruas, contra o impeachment…

A CNBB...

Agora estão todos "cheios de dedos” quanto a detalhes que seriam importantes para um processo de impeachment… Dizem que agora o tempo necessário é muito maior. Enquanto isso procura-se redimir os crimes cometidos  no Poder Executivo pela evidência  dos pesados pecados do presidente da  Câmara dos Deputados, que acolheu o pedido.  Como se os erros de um justificassem o dos outro. Agindo assim, os poderosos dão o que pensar…

 A única parte que permanece constante nos dois processos é o povo nas ruas. Agora acrescida com a novidade da internet. Temos milhões de pessoas nas ruas e nas redes sociais gritando "Fora Dilma".  Embora alguns órgãos de imprensa dizerem que não são tantas pessoas assim, e as televisões não mostrarem os protestos e vaias recebidos pela presidente onde quer que vá. Brava gente brasileira, lutando contra instituições cada vez mais gigantes, movidas por mentes e corações nanicos. 

Ah, se não fosse a internet! Onde temos exposto o que não querem que vejamos. Onde podemos nos lembrar do que querem nos fazer esquecer.  Sem ela, poderosos das leis, das notícias, e do governo já teriam usado seus poderes cada vez mais fermentados para, de posse do poder no presente, apagar ou mudar o passado  para governar eternamente no futuro, no qual o povo  seria formado de imbecís, sem Deus e sem pátria, vivendo do que lhe concede o Partido Governante, material e culturalmente,    enquanto cultua o "Grande  Chefe", para não dizer o 'Grande Irmão'. Nunca 1984 foi tão atual. George Orwell é profeta. 
Giselle Neves Moreira de Aguiar

Nota em 31/08/2016:
 Em 30/08/2016, o ex-presidente Fernando Collor  se defendeu garbosamente no seu discurso na sessão plenária que decide o impeachment da atual presidente Dilma Roussef, eleita e mantida no poder pelas forças de esquerda que o derrubaram. Veja o vídeo: