quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

1992 e 2015






Existem diferenças muito significativas entre o processo de impeachment sofrido pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e o que se inicia agora contra a presidente Dilma Rousseff. 

Os fatos relevantes acontecidos na época em que ocorreu o de Collor podem ser conhecidos ou lembrado no acervo online  do Jornal “O Estado de São Paulo”; entre eles destacamos alguns vistos como mais importantes e necessários para uma análise bem embasada do que hoje acontece.

Oficialmente o fato teve origem na renúncia coletiva do ministério devido a acusações de corrupções em 30 de março de 1992.  Em maio,  a revista 'Veja' publica a delação, feita pelo próprio irmão do então presidente,  de que PC Farias, ex-tesoureiro da campanha  presidencial, teria sete empresas no exterior, com a conivência de Collor.

Nessa altura dos acontecimentos,  segundo o ‘Estadão’, “A Câmara dos Deputados estabeleceu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar as denúncias. Na mesma época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e partidos de oposição realizaram uma manifestação chamada de “Vigília pela Ética na Política”, para pressionar os congressistas a checar devidamente os fatos e punir os envolvidos.” Observemos aqui o interesse das instituições em livrar o país do  nefasto, perigoso e muito danoso, crime de corrupção.

No mesmo dia, 29 de junho de 1992, os jornais “A Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo” pediam a renúncia do presidente, antes mesmo da entrevista com o  seu motorista, Eriberto França, ser publicada na revista “Isto é”; aquela,  que trouxe à baila o  motivo concreto para o impeachment: a compra de um ‘FIAT Elba’ com dinheiro de sobras de campanha. 

Multidões, capitaneadas por estudantes,  foram às  ruas gritando “Fora Collor”. 

Em primeiro de setembro A OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, e a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, nas pessoas de seus então presidentes: Marcello Lavenière, e Barbosa Lima Sobrinho, respectivamente, entraram com o pedido de impeachment do presidente na Câmara dos Deputados, que foi prontamente aceito. A OAB considerava  robustos os indícios de corrupção,  e de gravidade tal a ponto de assumir a co-autoria do pedido. A  ABI esqueceu a imparcialidade pedida na conduta de jornalística e também se destacava assinando o pedido.

Aqui cabe a pergunta: em que diferem as situações de ocorrência dos processos de impeachment, o de Collor e o de Dilma? Aos olhos de uma pessoa comum do povo, que acompanha os acontecimentos, poucas diferenças existem entre os fatos que os motivam;  parecem mais os mesmos,  diferindo apenas em intensidade e volume de acusações, provas, envolvimento de pessoas, e principalmente em desvios do dinheiro público. Em quantidade e volume dos danos causados à população do país eles parecem muitíssimo distantes...

No entanto, o posicionamento da OAB no caso Dilma foi dizer que não há motivos legais para o impedimento.  O comportamento da ABI pode ser avaliado pela posição da grande mídia na sua confortável posição de morde e assopra, embalada pelas gordas contas publicitárias das empresas estatais. 

A CUT já anuncia que vai para as ruas, contra o impeachment…

A CNBB...

Agora estão todos "cheios de dedos” quanto a detalhes que seriam importantes para um processo de impeachment… Dizem que agora o tempo necessário é muito maior. Enquanto isso procura-se redimir os crimes cometidos  no Poder Executivo pela evidência  dos pesados pecados do presidente da  Câmara dos Deputados, que acolheu o pedido.  Como se os erros de um justificassem o dos outro. Agindo assim, os poderosos dão o que pensar…

 A única parte que permanece constante nos dois processos é o povo nas ruas. Agora acrescida com a novidade da internet. Temos milhões de pessoas nas ruas e nas redes sociais gritando "Fora Dilma".  Embora alguns órgãos de imprensa dizerem que não são tantas pessoas assim, e as televisões não mostrarem os protestos e vaias recebidos pela presidente onde quer que vá. Brava gente brasileira, lutando contra instituições cada vez mais gigantes, movidas por mentes e corações nanicos. 

Ah, se não fosse a internet! Onde temos exposto o que não querem que vejamos. Onde podemos nos lembrar do que querem nos fazer esquecer.  Sem ela, poderosos das leis, das notícias, e do governo já teriam usado seus poderes cada vez mais fermentados para, de posse do poder no presente, apagar ou mudar o passado  para governar eternamente no futuro, no qual o povo  seria formado de imbecís, sem Deus e sem pátria, vivendo do que lhe concede o Partido Governante, material e culturalmente,    enquanto cultua o "Grande  Chefe", para não dizer o 'Grande Irmão'. Nunca 1984 foi tão atual. George Orwell é profeta. 
Giselle Neves Moreira de Aguiar

Nota em 31/08/2016:
 Em 30/08/2016, o ex-presidente Fernando Collor  se defendeu garbosamente no seu discurso na sessão plenária que decide o impeachment da atual presidente Dilma Roussef, eleita e mantida no poder pelas forças de esquerda que o derrubaram. Veja o vídeo:




quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Jovens aliciados e manipulados

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Jonas Tadeu, advogado de defesa dos dois jovens envolvidos na morte do cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro de 2014,  falou à imprensa, na época, que eles eram  "jovens que são aliciados, jovens que são manipulados", mas não disse por quem. A mãe de um deles se disse desesperada quando viu o filho na TV...
Algumas pessoas chegam a se revoltar, tomando a fala do advogado como o máximo da hipocrisia. Talvez tenham razão, mas li no Facebook um comentário de um post que mostrava a foto e uma reportagem sobre o jovem Fábio Raposo: “Cara de moço bom! Coitados dos pais dele!"
Para grande número de pessoas, as que conseguem ver os fatos sem envolvê-los politicamente, tais afirmações fazem o maior sentido. Elas os vêem com olhos de quem compreende realmente o que tem acontecido, e prevêem os efeitos desses fatos na vida da nossa juventude, no futuro do país. Seria saudável lembrar que esse tipo de gente, brasileira, trabalhadora, honesta, que cultiva tal tipo de pensamento, compõe a grande maioria do nosso povo, e é a parcela da sociedade que tem sofrido mais. De posse de voz, ela certamente perguntaria:
- O que tem acontecido com nossos jovens? O que os move a agir feito bárbaros, delinquentes, destruindo o patrimônio público, embora prefiram depredar o privado, ligado a grandes instituições denominadas por eles “capitalistas”?
- Quem os ensina a ser radicalmente contra quem produz, a ponto de torná-los improdutivos reivindicantes de bens que lhes devem ser “fornecidos” pelo governo, à custa dos impostos pagos pelos odiados patrões?
- Que futuro terá uma nação cujos jovens são alimentados com constantes críticas e rancores contra os valores que formaram seus pais e avós?
- Quem mata o respeito e a honra que os jovens e crianças deveriam ter por seus pais, e pelas autoridades? Quem os ensina a “questionar” (manipuladamente, conduzindo-os à descontrução) os valores que sempre pautaram sua família? Com quem, e onde, aprendem tais ideias?
- A quem devem reclamar os pais, quando têm filhos roubados pela ideologia rancorosa, contrária a seus princípios, pela droga, pelo descaminho até chegarem à delinquência?
- Que lei se fará valer para defender a maioria dos trabalhadores que valorizam a honra e o direito de educarem os próprios filhos segundo seus valores?
- Quem ressarcirá a maioria do povo, formada de família natural (célula da sociedade), do bullyng moral que sofre na mídia, nas escolas e até em certas igrejas, dos danos que significam para quem cultiva valores intangíveis?
- Quem pode alcançar a dor muda, causada pela confusão formada entre o amor à imagem que o filho faz deles e o dever de orientar e corrigir para defendê-lo das consequências de ações malfadadas? Dor superada apenas pela de ter seus valores e honra serem vistos como risíveis pelos próprios filhos.
- Como se sentem os pais que muito se esforçam para dar aos filhos uma escola que nunca tiveram, e que são mostrados como ridículos aos olhos dos filhos, por certos professores referindo aos seus valores mais sublimes? Como ficam os professores que não se ajustam a essa ideologia que demoniza a produção e todos os valores contrários ao marxismo ateu?
Nas escolas, os pais são condenados pelo mau comportamento dos filhos, no entanto, como podem ser responsabilizados se têm a autoridade paterna constantemente “questionada” por “intelectuais influentes” e pelas próprias autoridades?
Independente de quem assuma as próximas governanças, estaduais e federal, que tipo de povo será o brasileiro?
Em que tipo de inferno estão transformando esta nação cada vez mais sem Deus?
A quem essa maioria deve responsabilizar?
 Giselle Neves Moreira de Aguiar
Texto escrito em fevereiro de 2014

domingo, 22 de novembro de 2015

Demônios na Utopia

      



  "Demônios são criaturas angélicas, seres altamente evoluídos em relação aos humanos. Não são dotados de corpo biológico, são apenas espíritos que não sofrem dores físicas, não são possíveis de serem mortos e não sofrem nenhum limite imposto pelo corpo físico. Não gastam nenhuma energia para se locomoverem e nem têm sua inteligência ofuscada pelas impressões dos órgãos biológicos e dos sentidos humanos.

São criaturas de Deus, mas usaram de seu livre arbítrio para prestarem culto a si mesmos, escolheram fazer a própria vontade, prestar atenção aos seus atributos e às suas prerrogativas; preferiram se sentirem importantes. Então, afastaram-se de Deus porque, na proximidade dele nenhuma criatura pode se considerar grande ou importante, muito menos superior a qualquer outro ser que tenha o adjetivo de criatura.

Assim que resolveram se afastar de Deus começou um tempo novo. Uma forma de raciocínio diferente que não levava em conta mais os fatos e a Verdade. Levava em conta somente as possibilidades. O que poderia ser se não fosse daquela maneira. Criaram então um mundo paralelo, fictício, no qual toda a Verdade era apenas um estorvo a ser contornado por meio de exercícios de raciocínio que tornavam a consciência elástica, ou seja, a consciência não reagia mais naturalmente diante de uma mentira conforme antes.

É imprescindível que este mundo paralelo subsista longe de tudo o que se relaciona com Deus. Porque Ele é a Verdade e diante da Verdade nenhuma mentira pode subsistir.

Tudo o que é bom, agradável, satisfatório, razoável e salutar às criaturas vêm da fonte que é o próprio criador. Assim sendo, esse mundo paralelo criado pelos demônios é desprovido da própria fonte da vida. Resta-lhes então subsistir por meio de autofagia ou do canibalismo emocional, ou seja, extraem seus meios de manutenção de vida destruindo a si mesmos ou uns aos outros.  Os seres humanos guiados pelos demônios vivem da satisfação dos sentidos ou dos prazeres do emocional, que são obtidos por meio da consumição do próprio organismo por meio de drogas e/ou mau uso dos mesmos, ou dos organismos de outros seres que são usados, sugados e consumidos para dar satisfação a outra pessoa.

Os demônios são desprovidos de corpos biológicos, não precisam da energia física para existir. Mas como seus seres constituem apenas uma inteligência em estado de ócio, são altamente ansiosos, são altamente insatisfeitos. São grandíssimos devoradores de prazeres para camuflar um pouco a falta que sentem de Deus. Eles vivem dos prazeres que extraem assistindo a consumição dos seres humanos que se encontram desprotegidos da presença divina. Vivem do caos que conseguem obter semeando a mentira, insuflando vaidades, construindo armadilhas para pegar os incautos humanos, tão frágeis, tão maleáveis, tão suscetíveis aos prazeres do corpo e à carícia do ego. Sua pobre inteligência é passível de ser manipulada muito facilmente, principalmente se lhes for insinuado que agem a partir dela própria. A partir daí a egolatria faz a festa. A festa dos demônios à custa das vidas humanas. Porque da consumição dos humanos vivem os demônios.

Num mundo caótico, um demônio vive muito bem! Não fica evidenciada a sua dor, a sua carência, pior, a certeza de que por toda a eternidade sua vida será um inferno de carência: de afeto de amor! Num mundo caótico a sua condição de miserável estará camuflada, ninguém saberia o que é o amor verdadeiro. É muito fácil para um demônio torcer as palavras para que pensem que prazer é amor. Assim as pessoas buscando apenas o prazer pensariam estar buscando o amor, encontrando assim infinitas maneiras de se autodestruírem e se destruírem uns aos outros, dando assim origem e manutenção ao inferno, o mundo dos demônios.

Por isso, ao “tirar Deus da vida dos seres humanos”, os materialistas estão sendo manipulados pelos demônios, que fazem qualquer coisa pra tirar a Verdade e o Amor da vida deles. A Verdade e o Amor constituem o próprio Deus. Não se pode dizer que Verdade e amor são atributos de Deus. Deus é a própria Verdade. Deus é próprio Amor. Não existe, nem nunca poderá existir verdade sem Deus e nem Amor sem Deus.

Na presença de Deus todas as nuances da Verdade são explícitas. Ninguém pode ser enganado, a menos que negue voluntariamente Deus, como quem apaga a luz. Deus é a perfeição em si, portanto respeita profundamente suas criaturas a quem conferiu livre arbítrio, jamais impõe a sua presença.

Na presença de Deus ninguém aceitaria a proposta de um mundo sem Deus idealizada pelos dos materialistas. Então, o estratagema usado por eles seria o quê, por meio da autoridade dos que falam em nome de Deus, ir paulatinamente diminuindo o seu valor aos olhos das pessoas, o trocando por causas nobres, como a igualdade social, redução da pobreza, defesa do meio ambiente;  movidas por pessoas cada vez mais divinizadas.  Até que, seus egos bem insuflados pelas lutas propostas pelas novas ideias, pudessem se equiparar a um Deus que vai, pouco a pouco se tornando cada vez mais absurdo e ridículo num mundo cada vez mais caotizado no qual Deus passou a ser mais um item que pode ou não ser levado em consideração.

Sabe-se que os regimes que tentam impor o marxismo não vigoram por muito tempo. Somente o tempo em pode ser imposto pela força, pela violência. Quando a força é suprimida, o que vigora no que resta do ambiente em que Deus foi banido é o hedonismo, que graça nos regimes capitalistas: o mundo movido a prazer.

Os políticos querem ascender os pobres ao mundo do prazer. Compra-lhes a afeição e a sensatez com medidas populistas imediatistas. Uma vez assimilada pela nova doutrina, a pessoa “deleta” de seu universo pouco a pouco o sentido de palavras como honra e dignidade . Não existe mais para ela a vida interior, a vida espiritual. Só importa para ela ser aceita no mundo que a assimilou, no qual tudo o que dá prazer é lícito. Mesmo que seja só para determinado indivíduo. O “outro” só existe enquanto provedor do prazer individual. Mundo movido a interesses particulares. Só o que importa é o bem estar físico e emocional.  O mundo da autodestruição. Que subsiste do consumo da criação de Deus. O que será feito do planeta onde habita seres viciados em prazer obtido pelo consumo?

A consequência da “pregação da partilha dos bens” entre as pessoas produz o efeito totalmente contrário. Ninguém se sente em condições de doar, todos são carentes, todos querem receber, cada vez mais. Todos se tornam especialistas em defender os seus direitos. Todos estão prontos para acusar “o outro” por todos os males.

Para onde caminha o mundo que baniu o seu criador e provedor? Para o próprio inferno.


Por isso, é tão importante para os demônios afastar Deus das pessoas.  Segundo os seus interesses não deve, para os seres humanos, haver vida espiritual. Se houver, suas inteligências, também famintas, acharão um jeito de redescobrir Deus. E, se os humanos usando de suas poucas prerrogativas encontrarem Deus será o fim da festa dos demônios. Toda a ordem se restabelecerá.  Por isso tem sido estabelecido que os demônios sejam fantasias criadas pelos ignorantes fundamentalistas que “precisam” de um Deus. O segredo da existência dos demônios é razão do seu sucesso.
                                                                
Parte do livro Utopia sob Incursão, de Giselle Aguiar

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Liberdade é a liberdade de dizer que 2+2=4 - George Orwell -


Textos dos livro "1984", de George Orwell
tradução de Wilson Velloso - 
 Companhia Editora Nacional 
- São Paulo - 1977- 




A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Admitindo-se isto, tudo o mais decorre." - capítulo 7-

Espera-se que o membro do Partido não tenha emoções pessoais nem lapsos de entusiasmos. Supõe-se que viva num frenesi contínuo de ódio aos inimigos estrangeiros e aos traidores internos, de gozo ante as vitórias e de auto-degradação perante o poderio e a sabedoria do Partido.

Os descontentamentos produzidos por essa via nua e insatisfatória são deliberadamente purgados e dissipados por estratagemas tais como os Dois minutos de Ódio, e as especulações que poderiam vir a induzir uma atitude de ceticismo ou rebeldia são antecipadamente suprimidas pela disciplina aprendida na infância.

O primeiro e mais simples estágio dessa dessa disciplina, e pelo qual passam até as crianças de tenra idade, chama-se em Novilíngua "crimedeter". Crimedeter é a faculdade de paralisar, como por um instinto, no limiar, qualquer pensamento perigoso.

Inclui o poder de não perceber analogias, de de não conseguir observar erros de lógica, de não compreender os argumentos mais simples e hostis ao Ingsoc, e de aborrecer ou enjoar por qualquer trem de pensamentos que possa tomar rumo herético. Crimedeter, em suma, significa estupidez protetora." - capítulo 17 -

"Tampouco tinha Júlia o menor interesse pelas ramificações da doutrina do Partido. Sempre que ele (Winston) começava a falar dos princípios  do Ingsoc, duplipensar, a mutalidade do passado e a negação a realidade objetiva, e a usar palavras de Novilíngua, ela ficava aborrecida, confusa, e dizia não ter jamais prestado atenção a essa coisa. Sabia que tudo era lixo, portanto para que se preocupar com ele?

Sabia quando aplaudir e quando vaiar, e era toda ciência de que precisava. Quando ele persistia em falar em tais assuntos, Júlia tinha o hábito desconcertante de adormecer. Era uma dessa pessoas que podem adormecer a qualquer momento, em qualquer posição. Falando com ela, Winston percebeu como era fácil aparentar ortodoxia, sem ter a menor noção do que fosse ortodoxia. 


De certo modo, o ponto de vista do Partido se impunha com mais êxito às pessoas incapazes de compreendê-lo. Aceitavam as mais flagrantes violações da realidade porque jamais percebiam inteiramente  a enormidade do que se lhes exigia, e não estavam suficientemente interessadas para observar o que acontecia.


Graças à falta de compreensão permaneciam sãs de juízo. Apenas engoliam tudo, e o que engoliam não lhes fazia mal porque não deixavam resíduo, do mesmo modo que um grão de milho passa, sem ser digerido, pelo corpo de uma ave. "- capítulo 13 -

Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado - George Orwell -

Texto do livro: 1984, de George Orwells - Tradução de Wilson Velloso - Companhia Editora Nacional - São Paulo, SP - 1971 -


""Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado, rezava o lema do Partido". 


"Assim que fossem reunidas e classificadas todas as correções consideradas necessárias a um dado número do "Times", aquela edição era reimpressa, destruído o numero original, e o exemplar correto colocado no arquivo em seu lugar. Esse processo de alteração contínua aplicava-se não apenas a jornais, como também a livros, publicações periódicas, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, bandas de som, caricaturas, fotografias – a toda espécie de literatura ou documentação que pudesse ter o menor significado político ou ideológico.

Dia a dia e quase a minuto a minuto o passado era atualizado. Desta forma era possível demonstrar, com prova documental, a correção de todas s profecias do Partido; jamais continuava no arquivo uma notícia, arquivo ou opinião que entrasse em conflito com as necessidades do momento." - Capítulo 4 -

"– Não vês que o objetivo da Novilíngua (Nova fala) é estreitar a gama de pensamento? No fim, tornaremos a crimideia (pensamento-crime) literalmente impossível porque não haverá palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido, e cada  significado subsidiário eliminado, esquecido." - Capítulo 5 -

– Por volta de 2050, ou talvez mais cedo, todo o verdadeiro conhecimento  da Anticlíngua  terá desaparecido. a literatura do passado terá sido destruída, inteirinha. Chaucer, Shakespeare, Milton, Byron – só existirão nas versões da Novilíngua, não apenas transformados em algo diferente, como transformados em obras contraditórias do que eram. Até a literatura do Partido mudará. Mudarão as palavras de ordem. Como será possível dizer "liberdade é escravidão", se for abolido o conceito de liberdade?  Todo o mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como hoje o entendemos. Ortodoxia quer dizer não pensar... Não precisa pensar. Ortodoxia é inconsciência. - capítulo 5 -



1984- O poder

Texto do livro: 1984, de George Orwell- Tradução de Wilson  Velloso - Companhia Editora Nacional - São Paulo - 1971.



Como é que um homem afirma poder sobre o outro,Winston?
Winston refletiu.
– Fazendo-o sofrer.
– Exatamente. Fazendo-o sofrer. A obediência não basta. A menos que sofra, como podes ter certeza de que ele obedece tua vontade  não a dele? O poder reside em infligir dor e humilhação. O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se entender. Começas a distinguir que tipo de mundo estamos criando? É exatamente o contrário das estúpidas utopias hedonísticas que os antigos reformadores imaginavam. Um mundo de medo, traição e tormento, um mundo de pisar e ser pisado, um mundo que se tornará cada vez mais impiedoso, à medida que se refina.

O progresso em nosso mundo será o progresso no sentido de maior dor. As velha civilizações proclamavam-se fundadas no amor ou na justiça. A nossa funda-se no ódio. Em nosso mundo não haverá outras emoções além do medo, fúria, triunfo e auto-degradação. Destruiremos tudo mais – tudo. Já estamos liquidando o hábito de pensamento que sobreviveram de antes da Revolução.

Cortamos os laços entre filho e pais, entre homem e homem, entre mulher e homem. Ninguém mais ousa confiar na esposa, no filho ou no amigo. Mas no futuro não haverá esposas e nem amigos. As crianças serão tomadas das mães ao nascer, como se tiram ovos da galinha.O instinto sexual será extirpado. A procriação será uma formalidade anual como a renovação de um talão de racionamento. Aboliremos o orgasmo. Nossos neurologistas estão trabalhando nisso. 

Não haverá lealdade, exceto lealdade ao Partido. Não haverá amor, exceto amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, exceto riso de vitória sobre o inimigo derrotado. Não haverá nem arte, nem literatura,  nem ciência. Não haverá distinção entre beleza e feiura. Não haverá curiosidade,  nem fruição ao processo da vida. Todos os prazeres concorrentes serão destruídos. Mas sempre... não te esqueças Winston... sempre haverá a embriaguez do poder, constantemente crescendo e constantemente se tornando mais sutil. Sempre a todo momento, haverá o gozo da vitória, a sensação de pisar um inimigo inerme. Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano – para sempre.   (capítulo 20)

domingo, 20 de setembro de 2015

Entre jovens e policiais



As notícias, nos últimos tempos, têm se mostrado muito mais emocionantes e aterradoras do que os filmes de ficção, feitos para provocar emoções profundas apresentando muita violência e situações de  risco.

Nada se compara a uma cena mostrada num jornal da tarde, na TV, em que uma pessoa algemada  é jogada do alto de um telhado  ouvindo-se, em seguida, o tétrico som de tiros. Soma-se a essa outras, igualmente ou mais tenebrosas, nas quais o policial faz, na vida real, o papel de bandido.

No meu sexagenário baú de lembranças busco dados e luzes para tentar tecer uma narrativa que dê abrigo à mente e ao coração num ambiente cultural que poderia ser visto como um contínuo trailer virtual das cenas brutais vividas nos mundos árabe e europeu, onde a crueldade acontece fazendo os filmes de  violência explícita  parecerem contos da Carochinha.

 Sem querer ser saudosista, constato que tais notícias eram inconcebíveis na minha infância e juventude, quando preocupados em aprender, a produzir bens e a gozar as delícias saudáveis da vida, a imensa maioria dos jovens não seria capaz de imaginar cenas de tal calibre.  Naquele  tempo de sonho e de verdadeira luta, era  imensa  a  admiração sentida pela figura do professor, cujo nome da profissão soava como um título de grande nobreza, ainda que usasse um terno surrado ou uma camisa cuja cor mostrava que fora lavada e passada muitas vezes. Todas as professoras eram consideradas uma segunda mãe, às vezes mais rígida e exigente. Quando isso acontecia, era motivo de gratidão e sinal de eficiência. Os frutos falavam por si.

 O cenário de hoje, totalmente incompatível com o conhecido, parece ser o de um universo paralelo que acontece em filmes de ficção científica, onde  em tudo é igual ao nosso, porém, lá as coisas  acontecem de maneira invertida. Os bandidos são mocinhos e os mocinhos bandidos. Enquanto em um prevalece o bem, no outro, o mal impera por meio de violências em todos níveis.

A constatação de estar em outro mundo cujo mote é produzir dor, justificado por um eterno sentimento de vítima, não proporciona nenhum conforto. Qualquer alma forjada nos valores de antes sente um desejo de ajudar, a pelo menos diminuir a dor, que é sempre insuportável para  o ser humano, seja em si próprio ou no seu semelhante. Grita alto, no túnel do tempo, a frase de Montesquieu: A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos. Não deixa de ser um sentimento de autopreservação. Afinal, a humanidade é uma só, e qualquer desconstrução de sua estrutura natural é muito perigosa para todos.

A matéria publicada pelo "Diário de Sorocaba de, 18/09/2015, sobre um trabalho escolar  "que tinha o objetivo de levar a uma reflexão do quanto a polícia viola os deveres morais, éticos e legais em ações que contraíram a lei" feito por jovens do ensino médio, elucida muito.  Apresenta  o que pode ser um elo, uma etapa do trabalho de construção do tal universo paralelo dentro do nosso, onde tudo é mostrado com o sentido contrário. 

Assim, os pais não são aqueles seres que amam com amor incondicional, as autoridades são pessoas movidas pelas piores intenções, e o jovem, ainda quase adolescente, em pleno fulgor do vulcão hormonal, é induzido a acreditar em orientações que delineiam o nosso mundo como se fosse o seu inverso e perverso paralelo. 

A mentira proclamada a pessoas frágeis, e com a devida técnica,  vai se tornando real.  Desta forma, aos  poucos, os policiais viram bandidos. Talvez porque se tenham embrutecido por tanto enfrentar os sentimentos inoculados em nossos jovens, tão promissores, mas que não conseguem produzir nada além de protestos e revolta. O presságio é de que passem a produzir coquetéis molotov reais e virtuais, se dividindo em variadas espécies de black-blocs. O cenário, então, fica perfeito para o sombrio filme de terror, feito com a alta tecnologia  da engenharia social.

Giselle Neves Moreira de Aguiar


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Inveja e ciúmes: doenças perigosas





"Uma tristeza amarga invade a alma do invejoso; experimenta como que um aperto no coração uma espécie de angústia diante do bem dos outros, dos seus êxitos e das vantagens com que são favorecidos, e é com maligna alegria que os vê serem privados dos bens de que ele mesmo carece.

Se a inveja é o pecado do pobre, daquele que se encontra privado das vantagens de os outros gozam, os ciúmes são de certa forma o pecado do rico, daquele que possui e quer ser o único a possuir, não suportando rivais nem concorrentes. O ciumento sempre tem medo de ser suplantado por outro. Experimenta despeito sobretudo diante da estima e da afeição de que goza o próximo, porque quereria ter toda a estima e afeição única e exclusivamente  para si. 

Se ouve falar bem de outra pessoa, experimenta como que uma necessidade de contrariá-la, de denegri-la, de menosprezar as suas qualidades, de por em relevo suas faltas, até de caluniá-la, atribuindo-lhe intenções torcidas ou defeitos que não tem. "- Alexis Riaud -


Ultimamente parece acontecer uma epidemia de tais doenças, que definham a alma escondendo  das pessoas as próprias qualidades de maneira que não conseguem mais se alegrar com a produção de algo que as enriqueça pelas virtudes e as  façam se sentir melhor. 

Corações pesados, arredios, cheios de sentimentos negativos perderam o sentido da alegria, da vida plena. Só consegue preservar a verdadeir alegria quem pode desaguar no Coração de Deus, a cada dia, o rio da sua vida poluído por venenos de todas as espécies. Só assim se sentirá  renovado, com os arquivos limpos, com espaço no disco rígido do seu coração para  receber os arquivos grandes e
muito coloridos pela luz, alegria e afetos  para, por meio deles, saborear as delícias da verdadeira cordialidade.

Giselle Aguiar

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Houve um tempo em que os colunistas dos jornais mais relevantes respeitavam seus leitores e não os comparava a cães raivosos. À Luis Fernando Veríssimo.

Houve um tempo em que os colunistas dos jornais mais relevantes respeitavam seus leitores e não os comparava a cães raivosos.

Está certo que Luís Fernando Veríssimo se coloca entre os que escrevem textos  satíricos, mais chegados ao humor como Danilo Gentili. Mas hoje, 20/08/2015,  ele extrapolou.

 Na sua coluna do “Estadão”, que começa dizendo “Houve um tempo em que os cachorros corriam atrás dos carros” ele compara os participantes das manifestações contra o governo com cães raivosos correndo atrás de um carro sem saber porquê, movidos apenas por uma raiva instintiva. 

É inacreditável ver um escritor e colunista tão bem conceituado  dando a entender que não alcança aquilo que escreve,  à  semelhança de  um internauta  borg ( criatura cibernética da série  Star Trek) que repete afirmações apenas ouvidas como se fossem a mais genuína verdade.

Que falta de respeito aos seus leitores, cuja maioria certamente está entre os que participaram das manifestações por saberem separar atividade  artística  de posição política. Não seria inteligente condenar uma talentosa produção artística somente pela posição política do seu autor. A menos que a arte seja usada como instrumento de invasão do foro íntimo alheio… Aí já não seria mais arte.

Ao comparar os manifestantes com cães raivosos, o autor deixou de lado todo o seu rico repertório de conhecimentos  e a sua boa formação de  filho de Érico Veríssimo para, num tipo de vácuo, agir como um verdadeiro cão raivoso e agredir a democracia, o legítimo direito de manifestação do pensamento contrário ao dele e, principalmente, a inteligência de seus leitores.


A posição visceral do colunista remete ao que venho aprendendo sobre os marxistas, e de que maneira têm conseguido dominar o nosso mundo cultural. Uma frase atribuída a Lenin pode explicar os sentimentos do escritor: "xingue seu opositor daquilo que você é, acuse-o de fazer o que você faz.”  Nada mais ilustrativo para tal máxima do que  a coluna  de Veríssimo  publicada hoje no “Estadão".


Giselle Neves Moreira de Aguiar

sábado, 25 de julho de 2015

São Tiago Matamoros e as guerras santas, ontem e hoje






 A observação de cada etapa do tempo linear da história faz notar que os tipos de comportamento dos povos em relação aos outros só variam pelos tipos de armas usadas. Os sentimentos que os impelem são sempre os mesmos: o do mais forte querendo dominar e ampliar sua área de conforto para fortalecer suas características e a do  agredido querendo se defender para continuar a existir. Continua até hoje o velho instinto de autopreservação natural, que nos seres humanos é mais abrangente do que nos outros animais. 

Quanto mais o tempo passa mais evolução acontece e as armas vão se tornando mais sofisticadas, mas continuam provocando dor e muito sofrimento aos seus alvos. Também, os seres humanos foram, aos poucos, descobrindo que o que os movia belicosamente era o conjunto de valores invisíveis que  tinham em comum, o que fazia deles um povo. Valores que só a alma humana pode avaliar.

Assim, as guerras foram acontecendo por motivos claramente espirituais, os religiosos, os mesmos que defendiam os humanos da própria violência, os que lhes davam a transcendência do invisível, os que os tornavam melhores aos próprios olhos: os valores que condenam a violência e proíbem matar porque consideram a vida sagrada.

 Nesse ponto da história, formado de um longo período, surge a esquizofrenia, que dissocia o pensamento e sentimento da ação praticada. Quando o amor aos valores mais sublimes impele os humanos à guerra. 

As guerras religiosas são as guerras mais humanas, quando o instinto de sobrevivência se torna forte e impulsiona os indivíduos que formam um povo  a atacar a quem os deseja destruir, para, pelo menos, morrer lutando, honradamente por algo que valha mais do que a vida biológica. 

 Essas premissas são necessárias para entender os habitantes da Espanha, que no século IX, vendo sua terra invadida e dominada pelos mouros islâmicos, que além de entrar nas suas igrejas e catedrais à cavalo, profanando seus lugares sagrados, exigiam um tributo de cem donzelas dos habitantes do lugar.  Diante da agressão e ofensa ao que tinham de mais sagrado, os espanhóis invocaram o auxílio de um apóstolo de Jesus Cristo, São Tiago, cujos restos mortais haviam sido descobertos na  sua terra anos antes. A tradição  diz que o santo teria aparecido em batalha, num cavalo branco, com uma espada na mão incentivando  os cristãos à luta, vencida na famosa batalha de Clavijo, a partir da qual os invasores foram expulsos. Desde então surgiram as imagens de "São Tiago Matamoros"

 Atualmente, quem vai à Compostela e vê a grande imagem do Santo, sobre o cavalo, a atingir pessoas com golpes de lança, fica no mínimo assombrado com a violência e incoerência da cena, e é capaz  de imaginar coisas horríveis acerca dos cristãos antigos e sua fé. Mas, quem procura tecer a narrativa da vida com a linha do tempo, pode compreender o que sentem os protagonistas das violentas cenas de guerras que acontecem hoje no Oriente Médio entre judeus e islâmicos e  no Iraque, com o massacre dos cristãos que, por sua vez, agiam da mesma maneira, nas devidas condições: movidos pelo sentimento de ameaça da perda de algo mais valoroso que a vida biológica. 

O escritor inglês, G. K. Chesterton define bem esse sentimento tão humano  que se mantém intacto ao longo de décadas, séculos e milênios, por mais que queiram dissimulá-lo ou lhe dar outras conotações: “O verdadeiro soldado luta não por ódio ao que tem pela frente, mas por amor ao que tem por detrás.”

Enquanto as guerras e lutas forem pelo sagrado, ainda há esperança para a humanidade. Quer dizer que ainda há algo, imensurável por meios materiais, por que vale a pena lutar. Pior que  tais guerras, é a sensação falsa de conforto e prazer difundida por quem deseja dominar mentes corações pela mera sensação do próprio poder;  por esse modo, a humanidade toda estaria já como os habitantes da "Matrix"…