Existem diferenças muito significativas entre o processo de impeachment sofrido pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e o que se inicia agora contra a presidente Dilma Rousseff.
Os fatos relevantes acontecidos na época em que ocorreu o de Collor podem ser conhecidos ou lembrado no acervo online do Jornal “O Estado de São Paulo”; entre eles destacamos alguns vistos como mais importantes e necessários para uma análise bem embasada do que hoje acontece.
Oficialmente o fato teve origem na renúncia coletiva do ministério devido a acusações de corrupções em 30 de março de 1992. Em maio, a revista 'Veja' publica a delação, feita pelo próprio irmão do então presidente, de que PC Farias, ex-tesoureiro da campanha presidencial, teria sete empresas no exterior, com a conivência de Collor.
Nessa altura dos acontecimentos, segundo o ‘Estadão’, “A Câmara dos Deputados estabeleceu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar as denúncias. Na mesma época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e partidos de oposição realizaram uma manifestação chamada de “Vigília pela Ética na Política”, para pressionar os congressistas a checar devidamente os fatos e punir os envolvidos.” Observemos aqui o interesse das instituições em livrar o país do nefasto, perigoso e muito danoso, crime de corrupção.
No mesmo dia, 29 de junho de 1992, os jornais “A Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo” pediam a renúncia do presidente, antes mesmo da entrevista com o seu motorista, Eriberto França, ser publicada na revista “Isto é”; aquela, que trouxe à baila o motivo concreto para o impeachment: a compra de um ‘FIAT Elba’ com dinheiro de sobras de campanha.
Multidões, capitaneadas por estudantes, foram às ruas gritando “Fora Collor”.
Em primeiro de setembro A OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, e a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, nas pessoas de seus então presidentes: Marcello Lavenière, e Barbosa Lima Sobrinho, respectivamente, entraram com o pedido de impeachment do presidente na Câmara dos Deputados, que foi prontamente aceito. A OAB considerava robustos os indícios de corrupção, e de gravidade tal a ponto de assumir a co-autoria do pedido. A ABI esqueceu a imparcialidade pedida na conduta de jornalística e também se destacava assinando o pedido.
Aqui cabe a pergunta: em que diferem as situações de ocorrência dos processos de impeachment, o de Collor e o de Dilma? Aos olhos de uma pessoa comum do povo, que acompanha os acontecimentos, poucas diferenças existem entre os fatos que os motivam; parecem mais os mesmos, diferindo apenas em intensidade e volume de acusações, provas, envolvimento de pessoas, e principalmente em desvios do dinheiro público. Em quantidade e volume dos danos causados à população do país eles parecem muitíssimo distantes...
No entanto, o posicionamento da OAB no caso Dilma foi dizer que não há motivos legais para o impedimento. O comportamento da ABI pode ser avaliado pela posição da grande mídia na sua confortável posição de morde e assopra, embalada pelas gordas contas publicitárias das empresas estatais.
A CUT já anuncia que vai para as ruas, contra o impeachment…
A CNBB...
Agora estão todos "cheios de dedos” quanto a detalhes que seriam importantes para um processo de impeachment… Dizem que agora o tempo necessário é muito maior. Enquanto isso procura-se redimir os crimes cometidos no Poder Executivo pela evidência dos pesados pecados do presidente da Câmara dos Deputados, que acolheu o pedido. Como se os erros de um justificassem o dos outro. Agindo assim, os poderosos dão o que pensar…
A única parte que permanece constante nos dois processos é o povo nas ruas. Agora acrescida com a novidade da internet. Temos milhões de pessoas nas ruas e nas redes sociais gritando "Fora Dilma". Embora alguns órgãos de imprensa dizerem que não são tantas pessoas assim, e as televisões não mostrarem os protestos e vaias recebidos pela presidente onde quer que vá. Brava gente brasileira, lutando contra instituições cada vez mais gigantes, movidas por mentes e corações nanicos.
Giselle Neves Moreira de Aguiar
Nota em 31/08/2016:
Em 30/08/2016, o ex-presidente Fernando Collor se defendeu garbosamente no seu discurso na sessão plenária que decide o impeachment da atual presidente Dilma Roussef, eleita e mantida no poder pelas forças de esquerda que o derrubaram. Veja o vídeo: