terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Velhos e Novos Carnavais





Um dos sintomas da chegada da velhice é o pensamento muitas vezes expressado: “no meu tempo era melhor!”

Atualmente, nem temos tempo para relembrar o nosso passado e verificar se ele foi melhor ou pior do que o presente, tamanha é a quantidade de informações que estamos continuamente recebendo. 

Uma postagem na rede social, de um respeitado professor, criticando grupos religiosos que se reúnem para fazer do tempo da folia um retiro espiritual ou mesmo uma folia voltada à alegria de possuir a cristandade, fez-me lembrar os velhos carnavais.

Na minha infância e adolescência, vividas em uma pequena cidade do interior, o carnaval era uma festa  acontecida com grande intensidade. A cidade chegou a se dividir em três escolas de samba. 

Meses antes já ocorriam as providências, os estudos e os preparativos para a escolha do enredo, do samba narrativo, das fantasias, dos destaques, e dos dois ou três carros alegóricos. Tudo feito por amadores, realizando feitos em que podiam extravasar a veia artística. Os talentos da cidade eram realçados, e a felicidade comemorada com simplicidade e descontração. A faixa etária dos participantes variava entre três e oitenta anos. Acontecia a festa, sem grandes excessos, com ordem, paz e muita alegria. Quarenta dias depois, o mesmo entusiasmo se voltava para as encenações da Semana Santa. Podemos dizer que a cidade era formada por um povo de artistas: músicos, cenógrafos, figurinistas, e alguns maestros que conseguiam ver o todo e distribuir as funções segundo as habilidades.

Hoje, o carnaval acontece com mais intensidade, principalmente no número de participantes. Mas o espírito que move as pessoas  parece ser outro…

Por isso talvez que, muitos dos conseguiram preservar e transmitir à família o legado de um verdadeiro carnaval prefiram estar entre os que  têm os mesmos sentimentos quanto ao que seja bom e conveniente e fazer um carnaval diferente (rimou!). Pelo menos até essa maré violenta passar e a calmaria voltar.

Mas, existem heróis que têm, forte, nas veias o sangue dos bons e antigos carnavalescos, estes conseguem participar da folia enlouquecida de hoje e tirar dela somente a parte agradável, como vestir uma fantasia e conseguir sentir um pouco daquele gostinho de outros carnavais vividos ou apenas recebidos no DNA.

De todo jeito, o fato de ser humano é uma eterna maravilha que precisa ser comemorada. Cada um escolhe como quer viver esses três dias de "repouso", quer seja para a alma, para a mente, para o coração ou para o corpo.  O que importa é voltar com o vigor atualizado.