sábado, 8 de abril de 2017

Merchandising nas notícias.


Guerra na Síria.
O uso de gases como arma química é inaceitável e revoltante para qualquer ser  humano,  porque sabe que depende de um corpo biológico tão suscetível, e tão frágil, para viver. Atacou a um, assim covardemente, atacou a todos.

 No caso ocorrido recentemente, os principais veículos de comunicação atribuem ao chefe do governo da Síria, Bachar al-Assad,  a responsabilidade  por tal ato, embora, lá no finzinho de alguma reportagem, ou matéria opinativa, digam que o governo Assad nega veementemente a autoria do ataque; e as citações que fazem de estudos que a "os confirmam", digam “que o Estado Islâmico também recorreu a produtos tóxicos em uma ocasião" (Conforme, por exemplo, a reportagem d'O Estado de São Paulo’ na página A10 do dia 08/04/17). Confundem, mais do que informam.

Na internet dispomos de análises que  mostram pareceres de diversos órgãos e pessoas conforme seus interesses no caso Síria. Portanto, o cidadão comum não pode mais se dar ao luxo de ser um consumidor de informações desse ou daquele veículo. Não pode mais, simplesmente,  abrir um jornal como fazia antigamente, acessar um site de notícias ou assistir a uma noticiário na TV  e acreditar que tais informações sejam verdadeiras, da maneira como são ditas. Não basta mais saber as notícias, é preciso saber quem as conta. 

Saber quem dá a notícia é importante, e não é tão difícil como parece ser, basta chacoalhar as antenas da percepção e gastar um pouco mais de tempo para observar. Com algum tempo de tal exercício já se sabe quem é cada fulano ou fulana que opina e/ou analisa, qual é a sua praia, o quê curte e o quê defende. Fazendo conexões entre as várias formas de apresentação dos fatos podemos filtrar o que é verdade e  separá-la do que é propaganda, incluída por meios sofisticados de merchandising para vender ideologias financiadas por capitais poderosíssimos. Ou mesmo do próprio desespero de  determinado  veículo tentando chamar atenção,  e ganhar números altos dos institutos  de estatística.  Para isso procuram temas e manchetes cada vez mais escandalosos. Querem "ibope", sucesso, mais do que informar, sua real obrigação.

Importa observar que o consumidor de notícias está cada vez mais exigente, que o tempo de tietagem já passou. Ele percebe que coerência e raciocínio lógico agora são fundamentais para escapar de uma violência terrível, que faz com que a asfixia pelo gás sarin seja apenas um efeito colateral: a veiculação de noticias tendenciosas, tão distorcidas pelo alto teor de propaganda que carregam em cada palavra, em cada termo usado,  em cada maneira  como  são dadas que induzem quem as recebe a pensar o quê querem que pense. Essa arma é mais letal e mais covarde que o gás sarin ou outra arma química qualquer, ela degrada a  dignidade humana por meio de sua boa fé.  
Giselle Neves Moreira de Aguiar