As notícias, nos últimos tempos, têm se mostrado muito mais emocionantes e
aterradoras do que os filmes de ficção, feitos para provocar emoções profundas apresentando muita violência e situações de
risco.
Nada se compara a uma cena mostrada num jornal da tarde, na TV, em que
uma pessoa algemada é jogada do alto de um telhado ouvindo-se, em seguida, o tétrico som de tiros. Soma-se a essa outras, igualmente ou mais tenebrosas, nas quais o policial faz, na vida real, o papel de
bandido.
No meu sexagenário baú de lembranças busco dados e luzes
para tentar tecer uma narrativa que dê abrigo à mente
e ao coração num ambiente cultural que poderia ser visto como um contínuo trailer virtual das cenas brutais vividas nos
mundos árabe e europeu, onde a crueldade acontece fazendo os filmes de violência explícita parecerem contos da Carochinha.
Sem querer ser saudosista,
constato que tais notícias eram inconcebíveis na minha infância e juventude, quando preocupados em aprender, a produzir bens e a
gozar as delícias saudáveis da vida, a imensa maioria dos jovens não seria capaz de imaginar cenas de tal
calibre. Naquele tempo de sonho e de verdadeira luta, era
imensa a admiração sentida pela figura do professor, cujo
nome da profissão soava como um título de grande nobreza, ainda que usasse um
terno surrado ou uma camisa cuja cor mostrava que fora lavada e passada muitas
vezes. Todas as professoras eram consideradas uma segunda mãe, às vezes mais rígida e exigente. Quando isso acontecia, era
motivo de gratidão e sinal de eficiência. Os frutos falavam por si.
O cenário de hoje, totalmente incompatível com o conhecido, parece ser o de um
universo paralelo que acontece em filmes de ficção científica, onde em tudo é igual ao nosso, porém, lá as coisas acontecem
de maneira invertida. Os bandidos são mocinhos e os mocinhos bandidos. Enquanto em um
prevalece o bem, no outro, o mal impera por meio de violências em todos níveis.
A constatação de estar em
outro mundo cujo mote é produzir dor, justificado por um eterno sentimento de vítima, não proporciona nenhum conforto. Qualquer
alma forjada nos valores de antes sente um desejo de ajudar, a pelo menos
diminuir a dor, que é sempre insuportável para o ser humano, seja em si próprio ou no seu semelhante. Grita alto, no ‘túnel do tempo’, a frase de Montesquieu: “A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos”. Não deixa de ser um sentimento de
autopreservação. Afinal, a
humanidade é uma só, e qualquer desconstrução de sua estrutura natural é muito perigosa para todos.
A matéria publicada pelo
"Diário de Sorocaba” de, 18/09/2015, sobre um trabalho
escolar "que tinha o objetivo de “levar a uma reflexão do quanto a polícia viola os deveres morais, éticos e legais em ações que contraíram a lei”" feito por jovens do ensino médio, elucida muito. Apresenta
o que pode ser um elo, uma etapa do trabalho de construção do tal universo paralelo dentro do nosso,
onde tudo é mostrado com o
sentido contrário.
Assim, os pais não são aqueles seres
que amam com amor incondicional, as autoridades são pessoas movidas pelas piores intenções, e o jovem, ainda quase adolescente, em pleno
fulgor do vulcão hormonal, é induzido a acreditar em orientações que delineiam o nosso mundo como se fosse o seu inverso e perverso
paralelo.
A mentira proclamada a pessoas frágeis, e com a devida técnica,
vai se tornando real. Desta
forma, aos poucos, os policiais viram
bandidos. Talvez porque se tenham embrutecido por tanto enfrentar os
sentimentos inoculados em nossos jovens, tão promissores, mas que não conseguem produzir nada além de protestos e revolta. O presságio é de que passem a produzir coquetéis molotov reais e virtuais, se dividindo
em variadas espécies de
black-blocs. O cenário, então, fica perfeito para o sombrio filme de
terror, feito com a alta tecnologia da
engenharia social.
Giselle Neves Moreira de Aguiar