sábado, 30 de abril de 2016

O Rei Lear de Juca de Oliveira




Contracenando com a sonoplastia, feita apenas com instrumentos de percussão, com as luzes e efeitos num cenário único, Juca de Oliveira brilhou no Teatro Municipal Teotônio Vilela, em Sorocaba, na noite de ontem, 29/04/2016.

Rei Lear, a obra de Shakespeare, traduzida e adaptada por Geraldo Carneiro, de uma forma clara, precisa e grandemente acessível ganha vida através da interpretação de Juca de Oliveira, que sozinho, durante uma hora, captura a total atenção da platéia, encantada com sua presença suave, contando  a história do velho rei e suas filhas. A suavidade não é perdida nem quando o texto se torna amargo, exalando revolta e murmurações.  A figura do velho se transforma nas das filhas, nas dos subordinados e na do bobo da Corte. As transformações são feitas com maestria, o que  talvez seja o que mais encante, por  se sucederem sem nenhuma afetação, sem nenhuma ênfase nelas próprias. Acontecem natural e suavemente, como se acionassem algo automático em cada pessoa que acompanha o desenrolar da tragédia. Grandíssimo Juca!

No final, com sensação de quem sai muito melhor do que entrou, sentido-se mais  humanamente rica, cada pessoa da platéia tem muita vontade de aplaudir. Ficaria muito tempo mais, aplaudindo, se a humildade do ator não manifestasse tanto, e a cortina não o escondesse. Com  a direção de Elias Andreato, Juca de Oliveira apresenta um espetáculo digno de Shakespeare, feito por quem o conhece e  sabe tanto de arte cênica e seu real sentido, que cada apresentação parece ser uma espécie de culto. Parabéns, aos artistas, ao público, ricamente  agraciado, e à arte cênica nacional.

Giselle Neves Moreira de Aguiar

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Viva a Democracia!



Na noite de 17/04/2016, quem assistiu à toda seção da Câmara dos Deputados que aprovou a continuidade do processo de impeachment da presidente da República pôde sentir-se mergulhado no verdadeiro Brasil.  Não existe uma alma brasileira que não se sinta representada por algum integrante daquela longa fila  em que um a um dos nossos 513  deputados se apresentava diante da Nação, e especialmente do seu  eleitorado, bradando em alta voz o sentido do papel que ali desempenhava. Foi um esplendoroso reality show de democracia, no qual cada pessoa mais gritava que dizia por quem estava dando aquele voto. Exalava vida.

Os que votavam a favor do governo, contra o processo de impeachment, expunham sua indignação com o que ali acontecia. Denunciavam o que consideravam um golpe para tirar do poder a governante. Levando à própria face a cor que escolheram como símbolo  de sua luta pelo mundo que consideram bom, procuravam em si toda a veemência para expressar que aquilo era um complô entre o presidente da Câmara e o vice presidente da República, que tinham  os corações cheios de mágoa contra o governo; segundo as palavras de alguns, só por isso tudo aquilo acontecia. Era um bloco coeso e firme que se mostrava unido  no mesmo pensamento.

Os vencedores, os que votavam a favor da continuidade do processo, muitos já se manifestando a favor da saída da presidente do governo, também foram grandemente expansivos na manifestação de seus votos.  Envolvidos nos símbolos nacionais, bradavam defendendo os valores pelos quais consideravam válida a sua carreira de deputado(a). Deram um show de variedade na forma como manifestavam.  Haviam os cultos, letrados e bem nascidos, que expunham as razões cientificas da necessidade do impeachment, e também pobres e humildes que expunham, com toda a naturalidade, sua alegria de poder contribuir para que o Brasil possa ser considerado uma Nação séria e viável, segundo seus pareceres. Haviam médicos, juristas, engenheiros, agricultores, políticos de carreira hereditária, policiais e militares, religiosos e artistas, gente de toda sorte de “grau de instrução". Cada um deles dizia, com seus próprios e variados sotaques, e recursos de oratória,  o porquê do seu voto,  sempre associado à dor que mais lhe doía, atribuída à ações do governo, alvo do processo.

No entanto, havia um ponto comum em tanta diversidade: a maioria deles mencionou a família.   E cada  um que o fez se  mostrava como uma ponte entre seus pais e seus filhos e netos, obedecendo ao forte pendor da natureza humana.

Tenho visto aqui e ali críticas a esse fato, entre deboches de quem os considera "gente feia".   Gostaria que tais críticos considerassem: para quê se quer tanto a verdadeira democracia, a transparência na administração das contas públicas, que as instituições funcionem  independentes e harmoniosamente, produzindo ordem e progresso? Não é para que as pessoas que aqui vivem possam ser, livremente, aquilo que realmente são, dentro dos limites impostos pelas leis que seus  representantes formulam, segundo o interesse de seus eleitores? Não é esse o sentido da democracia?

Na verdade, aos doutos críticos, próximos a censores, pode estar faltando a percepção de algo tão importante para o povo que se mostrou tão realmente representado na Câmara dos Deputados: a família é de suma importância para a gente brasileira,  que faz parte do universo maior da espécie humana. E o modo como tem sido aviltada pelas políticas deste governo é o que mais assusta a população, e a faz rejeitar, do fundo d’alma, o que considera a maior de todas as violências.

A maioria do nosso povo continua religiosa e, por mais que cegos arrogantes possam ter poder, não conseguirão, com recursos da mera inteligência humana degenerada, a custa de deboches, controlar mentes e corações criados para o infinito, com o direito natural do acesso a Deus. Os projetos de mundo reproduzidos nos livros 1984" e "Admirável Mundo Novo", de  George Orwell e Aldous Huxley respectivamente,  não funcionam aqui.

Na noite de ontem, isso foi demonstrado. Resta saber se os soberbos críticos poderão ver o essencial: que o povo brasileiro é formado, em sua imensa maioria, de  pessoas simples que vivem no mundo real: no que foi construído por gerações e gerações de sua gente, com sangue, suor e lágrimas, forjado segundo seus valores espirituais. Portanto, um possível mundo imaginário, construído por meros humanos, ainda que grandes especialistas em comunicação, é muito pobre, e não há cristão (maioria do nosso povo) que nele possa viver. Viva a democracia!

Giselle Neves Moreira de Aguiar

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Barbarismo



Oh dor!
Quando avaliamos ser grande a nossa perda, constatamos, assombrados, que existe quem a queira muito maior.

 A manhã de hoje chegou com uma dolorosa surpresa. O principal quadro da obra de Bruno de Giusti, na Catedral de Sorocaba,  sofreu um ataque de vandalismo.

O jornal “Cruzeiro do Sul” de hoje, 13/04/2016, mostra o ataque que atingiu o quadro da multiplicação dos pães e dos peixes, do artista ítalo-sorocabano Bruno de Giusti. Quadro recém submetido a um trabalho de restauro  e de cuidados  para sua preservação. 

Fiz o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso de Jornalismo, na UNISO (Universidade de Sorocaba), sobre a obra do artista na Catedral.  Pelo que aprendi ao longo de uma vida no catolicismo, com o gosto pela arte, especialmente a sacra, e o  que foi aprendido com os estudos e pesquisas, a obra de Giusti conjuga e harmoniza conteúdo e forma, comunicação e arte. É um verdadeiro tesouro cultural contido em um acervo extremamente democrático, uma vez que qualquer pessoa pode ter acesso a tais obras, sem a menor restrição. Pertence ao povo de Sorocaba.

O estado lamentável dos afrescos das capelas laterais evidencia a grande necessidade de um sério trabalho de restauro, no qual a pintura original do artista, ressurja de debaixo de várias camadas de possíveis pinturas sobrepostas. Mas parece que, pelo estado em que agora se encontram, algumas estejam quase sem condições de serem restauradas. Muito especialmente o  de Nossa Senhora Aparecida, tão significativo para o catolicismo, a cultura de berço do povo sorocabano. 

A fácil acessibilidade talvez tenha sido o calcanhar de Aquiles, responsável pelo imenso dano. Ter obras valiosas assim expostas, em tempos atuais, é mesmo muito perigoso. É importante registrar porém, que tal ato de vandalismo não combina com a população que frequenta a Catedral para fazer orações, e  que  se beneficia das  obras de Giusti como inspiração. Também não combina com os mendigos que ali entram, e circulam, sem menor a cerimônia, como pequeninos na casa do Pai rico.  Tal  barbarismo é próprio de um tipo de  black bloc que deseja protestar contra Deus. Tudo o que exalta Seu valor e eleva a alma humana, causa-lhe dor tão grande que sente necessidade de destruir. Lamentável ato de quem deseja ter Deus banido.  Ou então, pior ainda, seria coisa de um fundamentalismo bárbaro que hoje parece acometer os integrantes do "Estado Islâmico", que têm destruído o patrimônio cultural da humanidade, em diversos lugares.

Nunca precisamos tanto da misericórdia divina!

P. S. O texto atribuído a mim nas aspas da reportagem do “Cruzeiro do Sul” não é de minha autoria. O que escrevi e publiquei sobre a obra de Giusti pode ser lida e vista partir do seguinte seguinte link:


"Para aqueles que emigraram para a morte, essa aldeia era como uma harpa.Todas as coisas tinham o seu significado: árvores, fontes, casas. E cada árvore com a sua história, diferente da outras árvores. E cada casa com os seus costumes, diferente das outras casas. E cada muro diferente dos outros muros, por causa dos seus segredos. Quando caminhas, vais compondo o teu passeio como uma música, extraindo o almejado som de cada um dos passos. Mas o bárbaro acampado não sabe fazer cantar a tua aldeia. Aborrece-o essa proibição de penetrar nas coisas e acabam por te desmoronar as paredes e dispersar os objetos. Por vingança contra um instrumento de que não se sabe servir, ateia o incêndio, que ao menos lhe paga com um pouco de luz. Depois desanima e começa a bocejar. Para a luz ser bela, é preciso conhecer até o que se queima. Aí tens a chama do círio que acendes ao teu Deus. Mas ao bárbaro, nem a chama da tua casa dirá coisa alguma, pois não é chama do sacrifício.” - Saint Exupéry, em “Cidadela" -

domingo, 10 de abril de 2016

TRAPOERABA ROXA - plantas ornamentais

Texto e foto: Gilson Moreira Neves



PLANTAS ORNAMENTAIS.
TRAPOERABA ROXA.
Setcreasea purpúrea ou Tradescantia pallida.
Uma planta herbácea, originária do México, muito resistente e comum que dão aos relvados um forte contraste com outras plantas e cores na paisagem.
Sua beleza está na uniformidade do roxo; as flores são róseas, protegidas por interessantes brácteas.
Foi introduzida em BH por Roberto Burle-Marx, na década de 40, nos jardins públicos da Pampulha. Hoje, amplamente difundida.
Trapoeraba roxa = Setcreasea purpurea ou Tradescantia pallida.

A "grama que comemos"

Texto e foto: Gilson Moreira Neves


AH...VÁ PASTAR !!!...

É assim que muitos se expressam quando querem denegrir uma pessoa ou pessoas, com o único propósito de chama-las de burro ou de idiota.
Sim. Os animais irracionais sempre comeram grama. E como comem!..
Acontece que eles não estão sozinhos nessa empreitada. Somos animais também, porém, dotados de inteligência. Mesmo assim também comemos grama. E todos os dias... E como comemos!!!..
Portanto, mandar alguém pastar não tem mais sentido ou significado qualificador de imbecil ou paspalho.
Para ser mais claro... Quem não come arroz e angu todos os dias? Quem não adoça um gostoso cafezinho? Quem não curte uma boa pizza ou, temporariamente, um molho de broto de bambu?..

Pois bem. Não escapa ninguém. Todos nós comemos grama, ou melhor, quase todas as gramíneas ou poáceas.

Muitos desconhecem, mas o milho, o trigo, a cana-de-açucar, o arroz, o bambu, a cevada, são conhecidos como pertencentes à família das poaceas, que é a mesma coisa que gramínea.

Se olharmos mais detalhadamente, veremos que suas estruturas são parecidas.
Essa família domina o globo. São tantas e tantas variedades a apresentar suas peculiaridades por todo lugar.

Algumas são invasoras como o CAPIM COLONIÃO, cujo nome científico é engraçado – Panicum maximum- que, por sinal, dá a maior dor de cabeça para quem se propõe manter áreas relvadas; sua velocidade de crescimento é espantosa...e o gado adora...e dá muito trabalho operacional.

Já a GRAMA BATATAIS, quando bem cuidada, permite compor e valorizar belas planícies paisagísticas tal qual a foto apresenta. Essa gramínea tem um nome científico também engraçado. É identificada como Paspalum notatum, que poderíamos induzir do latim como paspalho notável.

Pastar agora, como muitas coisas na vida, mudou de significado. No caso de pastar, ainda bem, é mais brando. Agora, mandar ir à m..., chega a assustar, embora tenha ficado agora menos agressivo ao desejar, com ênfase, o sucesso do próximo. Gíria muito usada no meio artístico. O face é a fonte dessa expressão.
Daí o melhor mesmo é pastar...
Ah...vamos pastar!!!...

Efeito vermelho na paisagem


Texto e foto : Gilson Moreira Neves


Para contrastar com o verde predominante nos jardins, uma boa pedida é inserir essa planta superbela por entre as composições paisagísticas. Seu visual escultural enobrece qualquer ambiente;
Não é exigente ao trato; requer apenas um pouco de sol para que possa florescer e manter o espaço sempre viçoso.
Pertence à família das zingiberáceas. Onde se insere o famoso santo remédio chamado gengibre;
não é perfumada como as flores brancas do Bastão-de-São-José -Hedychium flavescens-, que tomam conta dos lugares brejados, mas essa variedade floral vermelha-coral -Hedycchium coccineum Buch- é menos comum e é mais valorizada pelos profissionais por ser chamativa pela sua natural elegância.


Palmeiras em terraços


Texto e foto: Gilson Moreira Neves


VELHO ENGANO...
Muita gente deixa de plantar palmeiras em terraços por achar que elas necessitam de muita profundidade para sobreviver. Ledo engano. Apesar de algumas serem altaneiras, elas possuem raízes curtas e grudadas entre si.
Seu crescimento é lento e não aceita podas por não possuírem galhos.
São aclimatáveis, sem problemas, salvo irrigação programada.
A foto em pauta mostra o vigor dessas palmáceas no terraço do edifício, a enfrentar firmemente o sol diário e latente. Nota-se que o beiral do edifício não é tão alto.
O que se pode advertir, para que elas não sofram possível reviramento e queda, por força dos ventos, seria adequar firmemente uma estaca chumbada e locada rente ao tronco.
Outra ideia, também aproveitável, seria planta-las em grandes vasos, distribuídos de forma a promover microambientes pelo terraço, que geralmente são áridos.
A propósito, aqui vai uma sugestão: quem possui um terraço e queira reduzir a aridez local, mão à obra....
.Lidar com jardinagem e paisagismo é uma tarefa gratificante que faz muito bem para o físico e a mente.... fica aí a dica.
Foto: Av Afonso Pena- BH/MG