sábado, 2 de abril de 2011

A Igreja, Galileu e a Ciência



  

É bastante comum ouvir em salas de aula que a Igreja, por meio da Inquisição, condenou Galileu Galilei por defender a ideia do modelo do sistema heliocêntrico de Nicolau Copérnico. Tal fato, dito sempre com ênfase na condenação da Igreja, induz o aluno a pensar que as religiões, de maneira geral, são incompatíveis com a ciência.  Certos professores dão a entender que religião é coisa inventada, para manipular adeptos, e aproveitam para disseminar as ideias aceitáveis para materialistas, como o aborto e uniões homossexuais, ideias que são inaceitáveis para quem vive à luz de Deus, consciente das maravilhas espirituais que tornam sagrado tudo o que diz respeito à vida humana, tão cara a Deus. Pessoas religiosas  possuem uma visão de mundo que quem não desenvolve a visão da alma (  para ver o invisível aos olhos biológicos) não conseguem alcançar.

Observando um pouco se pode constatar que as pessoas que disseminam a condenação à fé são quem, na verdade, estão exercendo a manipulação. Muitas vezes o fazem tirando proveito da condição de professor, dizendo apenas parte das verdades e conduzindo o pensamento dos alunos de acordo com a ideia que querem fazer acreditar.

Como exemplo, podemos ver o próprio caso de Galileu. Não é necessário nem mesmo aprofundar, mas somente expandir um pouco o conhecimento a respeito desse assunto para ter uma visão mais clara do que realmente ocorreu.

Imaginemos o cenário da época: século XVII, a visão de mundo que as pouquíssimas pessoas alfabetizadas tinham era a de Aristóteles, dada no século IV A.C. Para estas pessoas, havia dois mundos diferentes:

O mundo supralunar (“pra lá da lua!”) que era considerado um mundo claramente simples, no qual a única mudança que poderia ocorrer seria na posição dos corpos celestes, que eles acreditavam que executassem movimentos circulares e uniformes, facilmente descritos matematicamente; e o mundo sublunar, onde vivemos, na crosta terrestre.   Este seria o mundo sensível ( medido e observado por meio dos sentidos humanos, as melhores ferramentas científicas disponíveis na época), do qual fazia parte os elementos pesados, que ficavam ligados à crosta, e os livres, como ar e fogo que ocupavam as camadas superiores. Segundo esse raciocínio, o acúmulo de metais pesados fazia a Terra ser o centro do mundo.

Outra ideia a ser considerada é a de que, geralmente, as mesmas pessoas que acusam a Igreja de ser contra a ciência a acusam também de deter todo o conhecimento nos tempos antigos, cujos arquivos eram guardados nos mosteiros porque quase somente os monges e padres sabiam ler e escrever.
Pois bem, naquele tempo era assim mesmo. Os primeiros grandes cientistas eram quase todos religiosos, o que nos faz ver que a ideia de ciência e religião serem antagônicas não tem base na lógica.

Voltando a Galileu: apoiado em observações feitas usando uma luneta que recém tinha sido inventada, Galileu defendeu diante da comunidade científica da época o modelo de sistema de Nicolau Copérnico, no qual a terra e todos os planetas giravam em torno do sol, o sistema heliocêntrico que hoje sabemos ser o real.

Acontece que as observações feitas das fases de Venus por Galileu, com as quais pretendia provar a existência do novo sistema, não provavam que a terra se movia porque, naquela época, havia também um terceiro modelo de sistema, o sistema de Tycho- Brahe , no qual a Terra estava parada no centro do Cosmos, a lua girava em torno dela, o Sol também, mas os planetas giravam em torno do sol. Este sistema explicava tão bem como o modelo de Nicolau Copérnico as observações feitas por Galileu com a luneta, ou seja, nesse modelo, os planetas (incluindo Venus, como mostravam suas fases) giravam, mas a Terra continuava fixa, como centro do Cosmos.

Embora Galileu estivesse certo, os recursos de que dispunha na época não foram suficientes para convencer a comunidade cientificado seu tempo, que era composta na sua maioria por pessoas ligadas à Igreja, o próprio Nicolau Copérnico era padre. Não se trata então, apenas da imposição religiosa de um dogma, mas da opinião da comunidade científica e o senso comum de uma época.

Para ilustrar o ocorrido, podemos nos lembrar dos, recentes na história, ferrenhos debates ente  Albert Einstein e Niels Borh, abordando a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica.

Os religiosos sempre desenvolveram papel importante para a humanidade no que diz respeito à ciência, as artes e a todos os saberes humanos. Não existe nenhuma área das sadias atividades humanas que não seja embasada no trabalho que alguém tenha feito para glorificar ao Deus inventor da criação e da criatividade.

Tudo o que eleva o ser humano é de interesse de um verdadeiro católico. Temos necessidade de estar sempre em ascensão, afinal o nosso destino e o nosso limite é nosso Deus, o autor e produtor do projeto “Vida”. A verdadeira ciência é um caminho seguro. Mas não se pode impor o conhecimento às pessoas, considerando-as ignorantes por não conseguirem acompanhar o raciocínio de quem se considera elevado, mas é necessário crescer no conhecimento científico  respeitando o grau de evolução e a bagagem de conhecimento de cada povo, de cada época.

Afinal se recebemos mais conhecimentos, e os recebemos de quem os  produziu antes  sequer existirmos, temos obrigação sermos mais humanos e compreender mais os irmãos e o mundo. “A quem muito foi dado , muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido.” Lc 12, 48

            Fonte:
Livro: Diálogos sobre Física Quântica
            Autores:José Croca e Rui Moreira
            Editora Capax  Dei
            Rio de Janeiro – 2010

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