A arte Sacra de Bruno de Giusti – Comunicação e Cultura na Catedral de Sorocaba



Sorocaba possui um valioso acervo artístico produzido num passado ainda recente, e que anda escondido dos meios de comunicação.  Tal fato faz dele notícia fresca e de alta temperatura no interesse das novas gerações, carentes de valores efetivos e consistentes.  Algumas peças desse acervo se encontram tão explícitas que, por estarem tão próximas e de fácil acesso, não recebem a conotação de importância que lhes é devida como, por exemplo, a obra de Bruno de Giusti na bela Catedral da cidade.

Giusti, pelo jornal Bom Dia Jundiaí , em 2006


           Um estudo para um trabalho acadêmico evidenciou dados que pareciam irrelevantes e que, no entanto, são essenciais para que tal patrimônio artístico receba a atenção e o mérito sepultados pelo tsunami de informações e de novas ideias que nem sempre são mais valiosas, ainda que mais chamativas. A pesquisa  revelou a capacidade do pintor ítalo-sorocabano de conciliar  arte e erudição com a linguagem e o imaginário coletivo de uma cultura universal, o catolicismo, expressa de maneira regional.
          
         O artista, formado pela Escola de Belas Artes de Veneza, uma das mais importantes do mundo, soube fazer uso da sua ciência adaptando-a de maneira tal que transmitisse os dogmas da doutrina  católica numa linguagem adaptada aos costumes e características do povo a quem servia com sua arte.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus

       
   "Apenas num olhar sobre o quadro da multiplicação dos pães e dos peixes, que fica na Capela do Santíssimo, tem-se a dimensão espiritual do significado do relato do Evangelho," comenta um jovem universitário. Nesse tempo, em que a velocidade da informação é tão importante para os meios de comunicação, a obra de Giusti se mostra atualíssima; todos os seus painéis são extremamente significativos e de grande capacidade de expressão. Neles estão "desenhadas" as histórias das personagens importantes para o catolicismo sorocabano.


o quadro da multiplicação dos pães e dos peixes na capela do Santíssimo
         
 A simplicidade de sua obra esconde uma refinada sofisticação. Os primeiros trabalhos, os das capelas laterais, iniciados em em 1948, foram feitos por um estrangeiro recém-chegado ao Brasil que, no entanto, soube captar, como poucos, a relevância dos pontos mais importantes da devoção brasileira à Nossa Senhora Aparecida; tem ainda a sensibilidade de usar como modelo a figura de uma pessoa muito popular da cidade na época, conhecida como Roque.
        
O sorocabano Roque retratado
Já em 1961, quando pintava os quatro evangelistas nos arcos que sustentam a cúpula da Catedral, pintou o rosto de um menino que ficava longo tempo observando seu trabalho, esse menino, hoje é o ex-prefeito da cidade, Paulo Mendes.  Giusti fazia o que chamava de regionalização da arte sacra, isto é, uma forma de inserir a comunidade no contexto mais amplo das verdades da fé.

O Evangelista São Mateus e o menino Paulo Mendes
        Essa ideia, que teve início em Sorocaba, foi se ampliando cada vez mais. Com o passar do tempo aprofundou sua característica de retratar as pessoas do lugar. O que a princípio seria apenas uma preocupação  em mostrar como familiares as feições das personagens, foi ganhando intensidade, e no trabalho feito entre 1983 e 1987 para a igreja da Vila Arens, em Jundiaí, ele já “vestiu” com as roupas características daquela época as personagens bíblicas pintadas com rostos de pessoas do lugar, .
         
   Segundo uma reportagem de Cláudia Rangel para do jornal “Bom Dia Jundiaí”, em 2006, as pessoas se sentem orgulhosas por terem sido modelos do artista, que afirmava: ”Sempre tive em mente produzir uma arte de fácil compreensão para o povo, e nada melhor do que o próprio povo passar a mensagem”.  A matéria traz uma fotografia do artista, já com 86 anos, com a seguinte legenda: “Giusti: mestre figurativo impressionista italiano busca retratar o ser humano em toda a sua essência”.

Jornal Bom Dia Jundiaí, de 23 de maio de 2006
 Bruno de Giusti é apenas uma das muitas personalidades sorocabanas que precisam voltar a figurar nos meios de comunicação. São pessoas cujas obras são  sempre novas e atuais, porque falam a linguagem atemporal da arte verdadeira; para as novas gerações  elas se tornam  notícias surpreendentemente encantadoras, porque são parte do seu patrimônio cultural.

                                                                                                     Giselle Aguiar 
                                                                                                     15/07/2013


Download do livro

Nota do dia 06/11/2015
Com muita alegria registro a notícia, recebida hoje,  do restauro da obra de Giusti na Catedral de Sorocaba, que pode ser prevista através de um vídeo no site do ateliê dos restauradores Herando Freire de Almeida e Rejane Ferreto D'Azevedo.

Veja aqui a página relativa  ao restauro da obra de Giusti na Catedral de Sorocaba

Nossa gratidão a todos os que o propiciam, especialmente ao Padre Tadeu.
Os sorocabanos, os católicos e os amantes da arte do futuro, haverão de saber agradecer a preservação de tão importante legado. 

 O restauro nas obras de Giusti - Post de 01/04/2016 -

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