quarta-feira, 4 de março de 2015

Atual conjuntura*



Desde a adolescência, acompanho notícias como muita gente acompanha novelas. Nos primeiros anos deste século, esse costume tornou-se mais intenso e  provido de mais acuidade.  As leves e   instrutivas  entrevistas de Leda Nagle assistidas na TV enquanto fazia artesanato,  deram lugar à procura por  mais profundidade  em  notícias estarrecedoras surgidas sobre corrupção  em órgãos da República e protagonizadas por altos figurões do PT, o partido que se elegeu bradando novos adjetivos desqualificativos sobre as lideranças políticas da época, cobrando ética e lisura no trato com a  coisa pública.
Em 2005 e 2006, pela TV Senado, acompanhei todas as audiências da “CPI do mensalão” cujo nome oficial era CPMI dos Correios (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito; mista porque dela faziam parte deputados e senadores, representando todo o Congresso Nacional.)   Antes, já havia  assistido a muitas entrevistas e notícias sobre o caso “Celso Daniel”, o prefeito petista de Santo André, SP, sequestrado e assassinado em 2002. As notícias publicadas tornavam o assunto mais intrigante que muitas séries policiais americanas. Sobretudo sabendo que em 2001acontecera a morte do Toninho do PT, prefeito de Campinas, em circuntâncias  também cheias de suspense.  Grande produção de artesanato.
Em 2012 e 2013, estudando jornalismo à noite, acompanhei nas reuniões plenárias do STF transmitidas ao vivo, o julgamento do Processo Penal 470, o  título oficial do mensalão.  Os nomes das  pessoas interrogadas nas longas audiências da CPMI dos Correios voltavam à memória como a quem relê um livro e reconhece  as personagens.
 Assistir à seções do julgamento fizeram de mim cidadã orgulhosa de nosso Poder Judiciário,  ouvindo a nata do saber jurídico da Nação exprimir, com palavras magníficas e acertadas, o que  eu sentia em relação aos fatos revelados e seus significados, de acordo com os princípios e valores da imensa maioria dos brasileiros. Porém, grande decepção causou o ministro Celso de Mello. Depois de tanto embasar com grande lucidez as decisões da Corte, acolhe os tais embargos infringentes como que acometido de algo que soa no mínimo incoerente, para uma mediana cidadã brasileira.
O conhecimento de tantos fatos me levou a compor a ideia de que o PT fosse um partido descompromissado com a lógica e com a coerência, uma vez que passara como um trator sobre todos os conceitos  de retidão e ética dos seus discursos de antes da eleição, tendo ‘trocado os pés pelas mãos’ no episódio do mensalão. Hoje, com a divulgação de mais um escândalo envolvendo o partido que controla a Nação, um artigo   de Reinaldo Azevedo, postado em seu blog, sobre a notícia do novo bafafá, resumiu a ópera encenada desde os primeiros anos deste século.  Fez rememorar os velhos nomes do caso Celso Daniel e os do mensalão reunidos nesse novo e maior escândalo, protagonizado pelo partido dominante. Os episódios se entrelaçam e formam uma narrativa com princípio e meio que evidenciam a “finalidade”.
 Sou obrigada a mudar meu conceito. O PT é um partido prenhe de lógica e coerência, só que com sinal contrário. Como em filmes de ficção científica, eles parecem habitantes de um universo paralelo onde o errado é certo e vice versa. Enquanto isso, passa para seus eleitores a mensagem de que tudo não passa de um “Samba do Crioulo Doido”, à moda  de Estanislaw Ponte Preta, alter ego do grande  Sérgio Porto…

* Atual conjuntura: expressão usada por Sérgio Porto/ Estanislaw Ponte Preta na  introdução explicativa da paródia : “O Samba do crioulo doido.
Ouça, no vídeo do link, a a música cantada pelo Quarteto em Si, com a introdução que seria do próprio Sérgio Porto

Giselle Neves Moreira de Aguiar
Escrito em setembro de 2014

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