quinta-feira, 12 de maio de 2016

Regressão induzida






A internet, especialmente nas redes sociais, é uma espécie de Aerópago popular do nosso tempo. Neste espaço, intangível e totalmente democrático, as ideias são colocadas e discutidas, independente de quem esteja por trás delas. Aqui as ideias são apenas ideias e ninguém pode usar recursos materiais para impor a sua sobre as demais.

Isso acontece graças ao avanço das tecnologias, o mesmo que obrigou nosso planetinha a se recolher à sua pequenez.  Tudo aqui se tornou próximo, até mesmo fisicamente. Nenhum lugar é mais longe do que 30 horas de voo.  Um nada, perto do que viviam os desbravadores do que antes era considerado “mundo”.  Este, que hoje sabemos ser o pequenino planeta Terra, um dos menores do sistema solar, que, por sua vez, é apenas um pequenino ponto, desprezível, na imensidão de um infinito  e desconhecido universo. 

Os que trouxeram o progresso da humanidade até aqui, os humanos que se destacaram entre os demais por terem executado ações que elevaram o padrão de vida de toda a espécie, sempre tiveram como certas as orientações religiosas, cada um em sua etnia. Eram movidos por esperanças  situadas  além da que pode propiciar a pobre expectativa limitada aos prazeres produzidos pelo conjunto de reações químicas acontecidas nos seus respectivos aparelhos biológicos. Tinham vida espiritual. Consideravam um Ser, a quem chamavam Deus, como fonte de todo bem, além de ser o impulsor e o motor de suas melhores ideias.

Os antigos, por mais poderosos que fossem, ou que supusessem ser, tinham alguém acima deles mesmos, a quem reportar os seus atos, com quem podiam chorar seus insucessos, congratular com as vitórias, e sobretudo pedir ajuda em momentos de fragilidade. Esses seres, que cultuavam Deus, construíram as bases da vida que hoje dispomos no planeta. 

A partir do século XIX, algumas pessoas ambiciosas tencionam  implantar uma “ideia hegemônica  para o pensamento humano”, um disfarce, um eufemismo para uma ditadura  constituída de  escravos mentais. Nesse caso, quem detivesse tal controle imperaria como deus e senhor, dos habitantes desse pobre planetinha que, na visão míope de tais seres com egos hiperdimensionados, é ainda visto como “mundo”.

O principal entrave para que as pessoas  aceitem ter suas vidas pautadas por ideias  do interesse de um governo de plantão (pois seria sempre formado por criaturas efêmeras) é o sentido religioso. Cada pessoa  traz no seu DNA desejos e tendências de posturas, que são transmitidos de geração em geração desde que o primeiro ser considerado humano manifestou o instinto de  proteção aos mais próximos, especialmente suas crias. Cada etnia tem uma forma de se relacionar com o que considera sagrado, e essa é a maior pedra no caminho de quem deseja controlar o mundo.

A partir do progresso vindo do desenvolvimento da ciência, que é todo baseado nas antigas descobertas de pessoas de fé, a arrogância humana  tem procurado uma maneira de canalizar as novas conquistas no sentido de abolir os valores mais elevados, os do espírito, responsáveis pela religiosidade, enquanto distrai a humanidade com a liberação total dos prazeres biológicos. 

Uma humanidade formada por seres pensantes e que evoluem filosoficamente de maneira proporcional às novas facilidades da tecnologia, é impossível de ser governada em sua totalidade, como  é o desejo de novos déspotas disfarçados de democratas. Daí, que para se obter o poder total no planetinha é necessário abolir as religiões e tudo o que se refere a elas. Segundo o pensamento que deseja dominar, é preciso se livrar das culpas impostas pelas religiões que “obrigam" os pais a amarem seus filhos e vice-versa, que querem fazer sentir a dor alheia como se fosse própria… 

Para se obter um governo hegemônico é   necessário que a humanidade dê um passo atrás. É preciso desligar, nas pessoas, as antenas que captam as mensagens mais elevadas, as que chegam ao espírito.  Para tal fim, usa-se meios e técnicas de comunicação para chamar uma atenção desmedida aos sentidos biológicos. Espera-se, com isso, que depois de algumas gerações, os seres humanos não sejam mais capazes de usá-las por não saber que existem. A humanidade seria formada por uma espécie de eunucos espirituais, para ser submetida e controlada. O Deus, que é espirito, não teria mais acesso aos espirito das suas criaturas, e vice-versa, segundo tal parecer.

Assim fica fácil obter a hegemonia: basta tratar a cultura como se fosse ração para grandes manadas, adaptada à cada geração. O principal componente da fórmula indicada para a geração atual é a crítica. Voltada  para os valores familiares e étnicos, especialmente os religiosos,  ela os mostra como bobo da Corte, feitos apenas para causar risos e serem alvo de deboches. Um bullying oficial, semelhante ao  sofrido pelos judeus, na Alemanha nazista.

Os efeitos de tal empresa têm se mostrado danosos. 
Cada indivíduo se sente um deus, que presta contas apenas a si mesmo. Recebe alimentos culturais que reforçam essa ideia, a medida em que se empobrece em termos do conhecimento de muitas outras ideias produzidas por pensadores ao longo de tantos milênios… Fica cada vez mais restrito à mesma visão de mundo ensinada nas escolas e cantada em versos e prosa nos ambientes culturais. A ração cultural, dita como democrática, se torna cada vez mais simplificada. Logo, logo será constituída apenas  de clichês, repetidos por quem cada vez entende menos o sentido do que diz.

O  espírito crítico tem se tornado assoberbado, devido à sensibilidade crescida por uma atenção sempre maior  ao próprio ego. E cada pessoa, portanto, se sente cercada  por tiranos por todos os lados. Quem quer que ouse contrariar uma hipersensibilidade é um tirano a ser combatido. As outras pessoas são vistas apenas como instrumentos de prazer, seja físico ou emocional. A partir do momento em que apresentem alguma necessidade, ou exigência,  passam a serem vistas como monstros odiosos, que ferem a, cada vez maior, sensibilidade.  E tudo é justificado para uma sensibilidade ferida. A Justiça passa ser, então, apenas um sentimento que pode  ser mudado constantemente. 

Graças a essa dieta cultural, as novas gerações, sem outros nortes no lugar dos roubados, vão descendo na escala de humanidade. São cada vez menos humanos, buscando prazeres, físicos ou emocionais, em substâncias materiais produzidas fora ou dentro do próprio organismo biológico. Elas dão prazer, enquanto bloqueiam a capacidade de sentir a verdadeira alegria, que acontece no espírito.

Esse é o “mundo” sem Deus que os livres dele querem nos impingir. Com cada vez menos espírito e mais prazeres, buscados em proporções tão grandes e com tanta sofreguidão, que a violência passa a ser apenas um aborrecido detalhe, por já ter sido banalizada em ambientes que dão espaço à verdadeiras guerras de egos.

Deve ser por tal razão que os animais são hoje tão queridos e admirados. Talvez já tenham superado o homo sapiens  desta geração, em virtudes e  verdadeira afeição. 


Por tal motivo, tanto valor atribuído à internet e às redes sociais. Sem elas, o status quo teria muito mais facilidade em filtrar os conhecimentos milenares da humanidade e obter, sem maiores esforços, o controle das mentes e corações humanos, numa hegemonia forjada por violência sem precedentes: a cometida contra as consciências humanas, por gente sem coração, no sentido espiritual que esse órgão assumia em tempo não tão distante. Com toda certeza, a internet e as redes sociais existem graças à misericórdia divina, cantada em todas as religiões.

Giselle Neves Moreira de Aguiar

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