quinta-feira, 15 de março de 2018

Desinformação



Muito interessante  resenha  de Joshua Philip do livro “Guerra da informação: o meme é o embrião da ilusão narrativa”, de James Scott,  publicada no website Epoch Times. Chamou atenção a reflexão sobre como grupos de pessoas "estão tentando alterar a forma como percebemos informações, a fim de influenciar a cultura e os valores subjacentes de nossas sociedades”.

Entre as táticas usadas para sequestrar mentes e corações está a desinformação. "Outro uso da desinformação é citar informações verdadeiras, mas para fabricar uma conclusão falsa, usando o conceito de propaganda de “um mais um é igual a três”. Isso pode incluir citar uma série de meias-verdades, e então alegar que as evidências se somam a algo que de fato não tem relação. Desacreditar este método exige que um dissidente ou crítico desmembre cada evidência, o que raramente pode ser feito com rapidez suficiente num debate público.”, explica Joshua Philip.



Eis um exemplo que pode ilustrar o que seja, e como funciona, a tal desinformação, que parece  estar sendo usada há muito tempo entre nós:

"Isso pode ser legal, mas é imoral” era uma frase bem comum até certo tempo atrás. O termo “Moral" era usado costumeiramente, como referência aos  hábitos da  nossa cultura, até que apareceu o termo “Ética" para substituí-lo. 

Existe quem se coloca na posição de mestre para ensinar que, embora haja quase um consenso de que Ética e Moral sejam sinônimos, certos autores (não mencionados) fazem distinção entre os dois conceitos dizendo que:

"Ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas;
Ética é permanente, moral é temporal
Ética é universal, moral é cultural;
Ética é regra, moral é conduta da regra;
Ética é teoria, moral é prática."

"Mostrando" que o termo relativo à Ética é mais abrangente, e dizendo que, "como doutrina filosófica ela é essencialmente especulativa e, a não ser quanto ao seu método analítico, não é normativa, como a moral” o é. Diz também que está relacionada ao estudo das comparações entre o que seria considerado moralmente aceito em determinados tempos e espaços. 

Como se não bastasse a demonstração de superioridade da Ética em relação à Moral, chega a uma definição: “Ética é a ciência que dirige as ações humanas para o bem honesto, de acordo com a reta razão.”  Ainda faz a análise da definição:

"É ciência: não é uma simples coleção de observações ou elucubrações infundadas. Trata-se, antes de tudo, de um conjunto ordenado de princípios e conclusões que levam a um agir reto.

Que dirige: esta palavra denota seu objeto formal, que é  a reta direção das ações humanas. Nisto se diferencia da psicologia, que também estuda as ações humanas, mas apenas quanto à sua natureza, e não quanto à sua direção.

Ações humanas: estas palavras denotam seu objeto material. Chama-se  ações humanas aquelas que são específicas do indivíduo, tudo o que é feito com reflexão e livre escolha. 

Para o bem honesto: posto que é a ciência orientadora das ações humanas, deve orientá-las para um fim determinado. Este é o bem honesto, o bem próprio e adequado da natureza do indivíduo, enquanto pessoa.

De acordo com a reta razão: razão não desviada por pré-julgamentos, paixões e interesses pessoais."

Observemos que enquanto desmerece o conceito de Moral, enaltece o de Ética, e subliminarmente, passa a mensagem de que o termo Moral é algo limitado, e pode estar associado a costumes arcaicos que devem ser (re)vistos à luz dos tempos modernos… Autoritariamente trata a Ética como Ciência, algo cujo conhecimento está bem acima do  saber médio das pessoas comuns, induzindo a quem assiste a se sentir beócio, caso não concorde, não aceite tal definição, ou que faça a si mesmo, as seguintes perguntas:

  • Como a Ética, sendo tão volúvel devido ao fato de como doutrina filosófica é essencialmente especulativa e não normativa, pode dirigir as ações humanas,  as "que são específicas do indivíduo, tudo o que é feito com reflexão e livre escolha”?
  • O quê seria agir retamente para uma doutrina que se diz especulativa?
  • Depois de quais estudos e especulações a Ética chegaria a um termo no qual estaria a direção das ações humanas voltadas para o bem honesto?
  • Como seria determinado o conceito universal de “Bem"? Já que a Ética é universal.
  • Como seria determinado universalmente o conceito de “Honestidade"? Já que é uma doutrina especulativa e não normativa?
  • Como poderia avaliar  como reta, ou não, a razão de cada indivíduo? 
  • Como classificaria como paixões ou interesses pessoais as moções particulares das pessoas?

No entanto, a definição de Ética que deverá prevalecer pelo menos naquele ambiente, é: "a ciência que dirige as ações humanas para o bem honesto, de acordo com a reta razão.”  A pessoa que não se enquadrar será considerada antiética.É grave o fato de que dentro desse largo e abrangente conceito de Ética cabe tudo o que pode ser considerado como preconceito da velha moral judaico-cristã. Cabe casamento homoafetivo, cabe transgêneros, cabe aborto, cabe pedofilia e, quem sabe?, zoofilia, cabe liberação das drogas…   

Aos poucos as pessoas daquele ambiente vão se adaptando aos novos conceitos e, logo, comportamentos considerados erráticos durante milênios em todas as etnias passam a ser bem aceitos dentro da modernidade da Ética. Especialmente se o novo conceito for introduzido de maneira quase erudita por uma autoridade. 

As consciências das pessoas vão se desligando, lentamente, de valores, que antes eram determinantes de suas identidades. Tornam-se cada vez mais abertas aos novos conceitos e cada vez cada vez mais confiam nas pessoas que os transmitem. Vão perdendo a capacidade de questionar. Vão perdendo a própria identidade e se divorciando do conceito de dignidade e de outros valores associados ao velho conceito de Moral. Vale lembrar que Górgias, famoso sofista grego, ensinava romper com todo o moralismo uma vez que, "a moral não é vista como norma  universal de conduta, não como lei racional do agir humano, isto é, como lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um 4empecilho que incomoda o homem.”

Esse fato parece  exemplificar  o  que hoje é chamado de desinformação,  pelo  uso de termos conhecidos com seus conceitos distorcidos conduzindo pessoas interessadas em adquirir conhecimento a um tempo e espaço tornados muito diferentes daqueles que elas próprias buscavam chegar. Trata-se de uma violenta agressão ao foro íntimo de cada pessoa, de uma lesão à inteligência que entorpece a consciência e torna, pouco a pouco, cada um desses indivíduos um dócil integrante de manadas conduzidas por palavras de ordem, ou um militante ferrenho  de causas contrárias aos valores que compõem a sua própria identidade. 

Pode-se compreender que um dos primeiros  conceitos  a  ser atingido seja o da Moral.  Por essa porta aberta nas consciências humanas, não ha nada que possa parecer absurdo. E o grupo que busca um poder ilimitado poderá “fazer a festa”, controlando mentes e corações.

Provavelmente, uma pessoa que se propõe a aplicar tal procedimento, a realizar um ato tão imoral para com seus semelhantes, já foi submetida ao mesmo tratamento e tem já a sua consciência lesionada. Cabe a ela, agora continuar contaminando as pessoas com o mesmo "vírus",  na esperança de que, um  ambiente formado  por  pessoas com consciências desligadas possa ser  tão bom quanto a imagem do mundo sem guerra, sem violência, sem agressões, como o modelo de mundo pacífico lhe fora apresentado antes. Mas será que ela consegue perceber que esse mundo é habitado por mortos-vivos, ou walking dead?

Giselle Neves Moreira de Aguiar

Nenhum comentário:

Postar um comentário