quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Liberdade é a liberdade de dizer que 2+2=4 - George Orwell -


Textos dos livro "1984", de George Orwell
tradução de Wilson Velloso - 
 Companhia Editora Nacional 
- São Paulo - 1977- 




A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Admitindo-se isto, tudo o mais decorre." - capítulo 7-

Espera-se que o membro do Partido não tenha emoções pessoais nem lapsos de entusiasmos. Supõe-se que viva num frenesi contínuo de ódio aos inimigos estrangeiros e aos traidores internos, de gozo ante as vitórias e de auto-degradação perante o poderio e a sabedoria do Partido.

Os descontentamentos produzidos por essa via nua e insatisfatória são deliberadamente purgados e dissipados por estratagemas tais como os Dois minutos de Ódio, e as especulações que poderiam vir a induzir uma atitude de ceticismo ou rebeldia são antecipadamente suprimidas pela disciplina aprendida na infância.

O primeiro e mais simples estágio dessa dessa disciplina, e pelo qual passam até as crianças de tenra idade, chama-se em Novilíngua "crimedeter". Crimedeter é a faculdade de paralisar, como por um instinto, no limiar, qualquer pensamento perigoso.

Inclui o poder de não perceber analogias, de de não conseguir observar erros de lógica, de não compreender os argumentos mais simples e hostis ao Ingsoc, e de aborrecer ou enjoar por qualquer trem de pensamentos que possa tomar rumo herético. Crimedeter, em suma, significa estupidez protetora." - capítulo 17 -

"Tampouco tinha Júlia o menor interesse pelas ramificações da doutrina do Partido. Sempre que ele (Winston) começava a falar dos princípios  do Ingsoc, duplipensar, a mutalidade do passado e a negação a realidade objetiva, e a usar palavras de Novilíngua, ela ficava aborrecida, confusa, e dizia não ter jamais prestado atenção a essa coisa. Sabia que tudo era lixo, portanto para que se preocupar com ele?

Sabia quando aplaudir e quando vaiar, e era toda ciência de que precisava. Quando ele persistia em falar em tais assuntos, Júlia tinha o hábito desconcertante de adormecer. Era uma dessa pessoas que podem adormecer a qualquer momento, em qualquer posição. Falando com ela, Winston percebeu como era fácil aparentar ortodoxia, sem ter a menor noção do que fosse ortodoxia. 


De certo modo, o ponto de vista do Partido se impunha com mais êxito às pessoas incapazes de compreendê-lo. Aceitavam as mais flagrantes violações da realidade porque jamais percebiam inteiramente  a enormidade do que se lhes exigia, e não estavam suficientemente interessadas para observar o que acontecia.


Graças à falta de compreensão permaneciam sãs de juízo. Apenas engoliam tudo, e o que engoliam não lhes fazia mal porque não deixavam resíduo, do mesmo modo que um grão de milho passa, sem ser digerido, pelo corpo de uma ave. "- capítulo 13 -

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