terça-feira, 28 de agosto de 2018

Tucanagens



 Com a quase evidente derrocada da candidatura Alkmin (Geraldo Alkmin, do PSDB), um grande aporte de atenção foi dado a de Amoedo (João Amoedo do Partido Novo) , e ele subiu para 4% nas pesquisas eleitorais.

Diante disso, foi sentida a necessidade de mais informações a respeito do candidato do Partido Novo e sua biografia.  Numa pesquisa no seu próprio site,  clicando no botão que indica  sua história encontramos:

"Se você ainda não ouviu falar do João Amoêdo, não se preocupe. Ele não é um candidato normal. Ele não está envolvido em escândalos de corrupção, negociações com outros partidos, não tem sobrenome político.

João é um cidadão comum, que resolveu sair da indignação para a ação.

Em 2010, junto com 180 cidadãos que não eram políticos, fundou o NOVO: um partido com filiados ficha-limpa, que faz processo seletivo para seus candidatos e o único que se mantém apenas com doações voluntárias de seus apoiadores, sem usar dinheiro público. Um partido de princípios e valores, que acredita no poder e na capacidade das pessoas. "

Então, a biografia dele começa em 2010… clicando no botão “saiba mais” abre uma página que faz propaganda do partido, não fala mais nada sobre a vida do candidato.

Em outros lugares da Web, ficamos sabendo que ele não não é um cidadão comum, a menos que existam alguns milhões de banqueiros em nosso País. Ele, "João Dionisio Amoêdo, é engenheiro e administrador de empresas que construiu carreira em bancos e acabou se tornando um banqueiro. Começou estagiário no Citibank e acabou virando sócio da BBA. Tem relacionamento longo e estreito com Armínio Fraga, Gustavo Franco e boa parte do escalão da equipe econômica do governo FHC. Foi presidente do Partido Novo até recentemente, quando deixou o cargo para poder disputar algum cargo nas próximas eleições. É o principal homem da legenda." - segundo João Filho, no site  The Intercept, em postagem de 5 de novembro de 2017

Em junho de 1988, um grupo de dissidentes do,  então, PMDB entre eles, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra, Geraldo Alkmin, Aécio Neves e outros, fundaram o PSDB em razão de discórdias com o governo de José Sarney.

Em setembro de 2017, Gustavo Franco, economista, um dos formuladores do Plano Real e ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, anunciou sua saída do PSDB, em meio à crise do partido, dessa vez por desacordo com o governo Temer. Ele passou, então, desde essa data, a integrar o Partido Novo,  elaborando o programa de governo e presidindo a fundação do partido, segundo a Folha de São Paulo, dizendo também que  Edmar Bacha deveria  integrar o novo partido.

Sendo verdade esses fatos, podemos concluir que o Partido Novo é uma nova versão do antigo PSDB, que por sua vez tem sua raiz no PMDB de Temer e Sarney, que tanta afinidade têm com o PT de Lula.

Exercendo o papel de oposição fake nos governos petistas, o  PSDB de FHC teve papel decisivo para  que Lula não sofresse impeachment na época do mensalão, e hoje sabemos do envolvimento de muitos de seus integrantes em ações  de investigação   da  Operação Lava Jato, embora a nossa imprensa não tenha levantado pontos que  fizessem links  de um fato  a outro.

Lula, Temer e tucanos sempre trabalharam juntos para que o Brasil chegasse onde chegou. Eles falam do que acreditam ser benesses, mas o povo tem sentido na pele que a Venezuela é logo ali, e que a nossa Petrobras quase  teve o mesmo destino da PDVSA, a companhia de petróleo do país de Chavez e Maduro amigos de Lula e do PT, hoje grande exportador de refugiados para o Brasil e para  todos  os países vizinhos. 

Se o tucanos fossem, realmente, oposição e se não tivéssemos uma imprensa comprometida com os mesmos ideais políticos que os movem, a Operação Lava Jato não teria a importância que tem, uma vez que os malfeitos teriam vindo à tona à medida em que aconteciam e os resultados não seriam tão danosos como o são.

Quando esses fatos foram divulgados nas redes sociais, começaram a parecer postagens muito parecidas com o que Flavio Quintela publicou no jornal “Gazeta do Povo” de hoje, 28/08/17, numa postagem em que critica a nossa juventude, colocando a culpa na esquerda pelos horríveis defeitos que aponta nos jovens de direita. Lá no meio do artigo  ele coloca esse parágrafo:

"O caso que me levou a escrever este texto foi justamente o relacionado a João Amoêdo. Bastou que o candidato do Partido Novo aparecesse com 4% das intenções de voto na pesquisa do BTG Pactual para que a militância virtual de Bolsonaro se engajasse em atacá-lo de diversas formas, incluindo a disseminação de memes de mau gosto, teorias conspiratórias sobre a formação do Novo, assassinato de reputação do próprio Amoêdo, trogloditismo e capslockismo contra qualquer militante do partido, e assim por diante. O resultado prático desse modo de agir será o afastamento dos eleitores do Novo em um eventual segundo turno com a presença de Bolsonaro, ou seja, menos ajuda para conseguir os 50% mais um dos votos válidos.”

Cabe aqui um questionamento:
Como assim, assassinato de reputação? 
Por acaso é mentira que Amoedo é um banqueiro poderoso, aliado de outros tantos, que criou um partido com tucanos de velhas plumagens e chamou esse partido de Novo? 
Dizer isso é teoria da conspiração?
Assassinato de reputação?

As opiniões vindas a partir da publicação dessas verdades, omitidas (propositalmente?) até agora, devem ser silenciadas por conta de lacração autoritária de quem se considera chefe feudal de determinado número de seguidores nas redes sociais?

Nesse caso, cabe também a ilação de que certos "senhores de feudos”das redes sociais, pessoas que têm muitos seguidores, podem estar produzindo  postagens como mercenários. É muita forçação de barra!
Coisa de quem pensa que o povo é burro.

sábado, 4 de agosto de 2018

Manipulação


Sobre a desqualificação  do editorial de O Globo do dia primeiro de abril de 1964,  após 30 anos. Onde fica a ética do jornalismo?







O episódio da jornalista Myriam Leitão “desmentindo" o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, acontecido no dia três de agosto último, chama atenção para um comportamento muito perigoso praticado por renomados profissionais do jornalismo.

O candidato havia dito, durante a entrevista no canal televisivo Globo News,  integrante do grupo Globo de Comunicações,  que na edição de primeiro de abril de 1964 do famoso jornal,  logo em seguida à tomada do governo pelos militares, o seu diretor, Roberto Marinho, tecia elogios aos militares e assegurava que o fato ocorrido era um grande bem para a Nação Brasileira.  Seu texto dizia que os militares haviam livrado o País de  um "Governo irresponsável, que insistia  em arrasta-lo  para rumos contrários à sua vocação e tradições.”

Terminada a entrevista, a jornalista que capitaneava a equipe que o entrevistava, pediu um tempo, e logo começou a dizer para câmera o que parecia ouvir pelo “ponto”.  

Ela falava em nome do jornal, dizendo que, de fato,  seu diretor havia escrito aquele editorial em primeiro de abril de 1964 (não era mentira), no entanto, 30 anos depois, em 2013, o mesmo jornal havia publicado um novo editorial corrigindo o que seria um erro, afirmando que sim, a tomada do governo pelos militares foi um golpe. Sendo que, Roberto Marinho, autor do texto renegado,  e proprietário do jornal, havia falecido em 2003. 

Podemos observar em tal fato, acontecido  em uma transmissão de televisão ao vivo, que 10 anos após sua morte, os empregados do jornal resolveram se amotinar e dizer que ele estava errado. Em outras palavras, o que ele disse era mentira.

Caso não seja devidamente esclarecido, constatamos uma  evidente corrupção do serviço de jornalismo praticada pelos jornalistas tanto em 2013, como agora..  Foi exibida uma clara intenção de mudar o passado, à custa de desacreditar os que os o haviam registrado jornalisticamente.

Caso tenham sucesso, o que aconteceu em 1964 fica revogado, deixa de existir por vontade de meia dúzia de jornalistas que resolveu mudar o passado em favor de suas crenças ideológicas, ou por outro motivo escuso. Impressiona a audácia. Falam em transmissão ao vivo de TV, pomposamente transmitindo a ideia de que basta dizer naquele veículo, daquela forma para ser verdade.

Então, os jornalistas têm o poder de alterar os fatos registrados no passado por outros profissionais da área que não mais aqui estão para se defender?

Diante de tal situação, como fica o público que os paga para receber informações acreditando que elas sejam precisas e corretas, que correspondam à verdade dos fatos, à realidade? 

O que foi exibido pela Globo News foi uma concreta alteração da realidade, uma mudança do que fora registrado no passado pelo mesmo jornal.  Podemos supor que desejam que o público se esqueça do que realmente aconteceu em 1964, publicado pelo jornal, para adotar como verdadeira a nova versão daqueles fatos formulada 30 anos depois. Uma empresa de jornalismo, que vive de vender informações, agora se sente poderosa o suficiente para modificar o que foi  por ela mesma publicado em tempos passados.  Em quem devemos acreditar, na pessoa que os vivenciou  e deu por escrito a sua análise enquanto vivia concretamente o contexto, ou nos jornalistas de 30 anos depois, que já não dão tanto valor ao rigor da realidade dos fatos, considerando que podem mudar o que outro jornalista escreveu, demonstrando assim um enorme desprezo pela ética profissional? 

Qual o grau de confiabilidade de uma empresa que assim se comporta, expondo tal postura ao vivo, num importante momento da vida do País?  Se podem fazer isso, certamente acreditam que possam fazer o que descrevem  esses trechos  de George Orwell  no livro de ficção  “1984”:



"O Partido dizia que Oceânia jamais fora aliada da Eurásia. Ele, Winston Smith, sabia que a Oceânia fora aliada da Eurásia não mais que quatro anos antes. Mas em que local existia  esse conhecimento?  Apenas em sua própria consciência que, de todo modo, em breve seria aniquilada. E se todos os outros aceitassem mentira imposta pelo Partido – , a mentira tornava-se história e virava verdade. “Quem controla o passado controla o  futuro; quem controla o presente controla o passado”rezava o lema do Partido. […]
"As mensagens que Winston recebera diziam respeito a artigos e reportagens que por esse ou aquele motivo foram julgados necessário alterar – ou, no linguajar oficial, retificar. Por exemplo, a leitura do Times de 17 de março dava a impressão de que, num discurso proferido na véspera, o Grande Irmão previra que as coisas permaneceriam calmas no fronte do sul da Índia, mas que o Norte da África em breve assistiria a uma ofensa das forças eurasianas. Na verdade, porém, o alto-comando da Eurásia lançara uma ofensiva sobre o sul da Índia, deixando o norte da África em paz. Assim, era necessário reescrever um parágrafo do discurso do Grande Irmão, de forma a garantir que a previsão que ele havia feito tivesse de acordo com aquilo que realmente acontecera. […] 

Depois de efetuadas todas as correções a que determinada edição do Times precisava ser submetida e uma vez procedida a inclusão de todas as emendas, a edição era reimpressa, o original era destruído e a cópia corrigida era arquivada no lugar da outra. Esse processo de alteração contínua valia não apenas para jornais como também para livros, periódicos, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, trilhas sonoras, desenhos animados, fotos – enfim, para todo tipo de literatura ou documentação que pudesse vir a ter algum significado político ou ideológico. Dia a dia, quase minuto minuto, o passado era atualizado. Desse modo era possível comprovar com evidências documentais que todas as previsões feitas pelo Partido haviam sido acertadas; sendo que, simultaneamente, todo vestígio de notícia ou manifestação de opinião conflitante com as necessidades do momento eram eliminados."

Lendo o livro completo, podemos avaliar, ainda que hipoteticamente, aonde chega um povo enganado pelas suas fontes de informação, mas o emprego da lógica  também pode ser  de  excelente  ajuda.

Precisamos refletir, que tipo dano causa quem manipula informações, quem falsifica a realidade e vende como notícia verdadeira opiniões tendenciosas com o objetivo de capturar as consciências  das pessoas e conduzi-las  ao serviço de  interesses que certamente  não seriam considerados publicáveis.

Ai da humanidade se não houvesse a internet! Para quem crê, esse é um instrumento da misericórdia divina,  pela qual nossa preciosa liberdade é preservada. Imagine, se ela não existisse, como acontece no livro “1984”, com grande probabilidade, estaríamos comprando mentiras como se fossem verdades cristalinas. Como poderiam ser checadas as notícias que nos chegam, como saber de opiniões divergentes das que nos são dadas como ração, a mesma, praticamente,  em todos os veículos? Como saber de tudo o que nos queiram esconder? 

Giselle Neves Moreira de Aguiar