sábado, 18 de novembro de 2017

Ela desatinou…





Carnaval de rua do Rio nos anos 60 (Foto: Evandro Teixeira) 
Foto publicada no site da revista Veja: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/uma-viagem-por-antigos-carnavais/


Taís Araujo: ”No Brasil cor do meu filho faz com que as pessoas mudem de calçada.”

Muitos têm perguntado em que país vive a moça. 
Lembrei-me de duas músicas de Chico Buarque, que fizeram sucesso num tempo em que moças  pobres viviam dias de fantasia nos enredos das Escolas de Samba, na época do Carnaval. 

 Em “Quem te viu, quem te vê”, ele conta, na letra:

 “Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita  onde eu era mestre-sala”
(…)
"Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia”

Em "Ela desatinou”, observa:

"Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando…”

e confabula:

"Eu não invejo a infeliz ,feliz, 
No seu mundo de cetim, assim
Debochando da dor, do pecado
Do tempo perdido, do jogo acabado"


Nas duas letras, ele chama a atenção para a situação em que a moça se envolve tanto na fantasia que não consegue sair dela para entrar na realidade. Mas, naquele tempo, a fantasia tinha beleza, as Escolas de Samba eram verdadeiras óperas populares, carregadas de conteúdo cultural do que havia de melhor no nosso povo. O contexto da festa despertava mesmo a vontade de permanecer naquela fantasia, especialmente nas jovens que podiam ser sonhadoras, porque conheciam, por experiência própria, o que era um sonho, uma quimera, um desejo distante, uma fantasia...

Daquela época para cá muita coisa mudou. 
A observação de Chico Buarque do mal por detrás de tudo que considerávamos bom, tem feito muitos adeptos, e passou a ser uma visão cult, chique, que a maioria dos influenciadores da cultura passaram a adotar.

E assim, de produção em produção, a empregadora da atriz passou a produzir novelas cada vez mais questionadoras do modus vivendi, nos quais as personagens são, na imensa maioria,  pessoas perigosas, cheias de maldades de todas as espécies. As heroínas têm que ser espertas, capazes de digerir todo o mal acontecido durante toda a trama e no final passar uma mensagem tipo: a vida é assim mesmo…

Até que chegou a um ponto em que tudo  acontece às avessas. A excelente atriz, a moça linda,  que possui um padrão de vida de alto nível, frequentadora das mais altas esferas da escala social, vive, nos cenários das fantasias produzidas pela empresa em que trabalha, os mais sórdidos ambientes em todas as esferas dos relacionamentos humanos, onde todos são vilões considerados mocinhos ou vice-versa, apesar da maioria exibir as melhores aparências e se mostrarem em cenários cinematográficos.

Vivendo a maior parte do tempo assim, e passando sempre essa mensagem,  a pobre  moça linda e rica desatinou, se acostumou na fantasia negativa, e não consegue sair da realidade tenebrosa produzida no “Projaquistão”. Segue se obrigando a considerar tudo como dor, pecado (somente social) num tempo perdido de jogo acabado. Ela destinou…


Quem te viu, quem te vê


Ela destinou..





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