sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A liberdade de expressão no nosso dia a dia


                                                                  

           
            A liberdade de expressão tem sido para mim objeto de alto custo. Como estudante do 6º período de jornalismo mesmo estando às portas da terceira idade, observo algo que deve acontecer nas universidades do mundo globalizado: uma certa corrente de pensamento as invadiu e aplica os ensinamentos de Gramsci sobre hegemonia aos incautos alunos. Faz isso usando as formas de manipulação que ensinam a eles, atribuindo-as, com veemência e constância, aos demonizados “industriais da cultura” e ao que considera o próprio demônio, o capitalismo, a responsabilidade por todas as mazelas do mundo, eis seu dogma precioso e sagrado.
             
Os estudos das Teorias da Comunicação dizem que este movimento começou na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, a partir de 1964; Angela Prysthon, no seu trabalho: Histórias da teoria: os estudos culturais e as teorias pós-coloniais na América Latina, diz que: "os Estudos Culturais se estabeleceram como um terreno por excelência, tanto para o estudo como para o próprio desenrolar das transformações", noutras palavras, os próprios professores seriam militantes a serviço da ideologia política.
           
  Esta constatação foi motivo de decepção, espanto e revolta para quem passou vida lendo, principalmente jornais, e pretendia, depois da aposentadoria, realizar um mergulho intelectual no mundo da comunicação, da cultura e da arte. Porém, nas primeiras aulas desta mesma disciplina, vi que nada veríamos sobre comunicação, cultura e arte, a não ser críticas, críticas e mais críticas às empresas de comunicação e aos países profícuos nas artes de entretenimento. Os filmes de Hollywood eram apresentados não como objetos de análise do talento dos artistas, da engenhosidade dos recursos e da visão dos empreendedores, mas sempre como instrumentos de manipuladores ferozes nas mãos dos quais os pobres futuros jornalistas haveriam de sofrer horrivelmente por tê-los como patrões. Nenhuma outra visão de mundo era apresentada.
           
  Vi-me impelida, em tão esdrúxula situação, a usar minha liberdade de expressão, como aluna e cidadã, para com muita contundência, defender minha inteligência e a de meus colegas de verdadeiras agressões, uma vez que, professores abusando do direito à liberdade de cátedra, estavam, no meu entendimento de pessoa vivida, doutrinando os alunos nas suas crenças ideológicas.
           
  A princípio os colegas se assustavam com aquela senhora, fora de seu habitat natural, que discutia com o professor que evocava a cada instante o seu título de doutor. Com o tempo se acostumaram e diante de uma afirmação mais incisiva dos mestres olham para mim espreitando novo bafafá. Hoje acontecem raras interpelações, os professores estão mais contidos.
          
  A vivencia de tal situação foi agravada por outra dificuldade de comunicação: ao comentar o que  acontecia dentro das salas de aula com as pessoas da minha idade, a maioria delas me olhava com descrença, considerava  impossível que tal fato viesse a  acontecer. A geração das pessoas acima de 55 anos não pode conceber que se doutrine estudantes, em qualquer área do pensamento, dentro da universidade, onde se espera que aconteça apenas a grandíssima pluralidade de ideias e a explosão benéfica que acontece,  pela ação do contato entre a criatividade e o conhecimento científico, de projetos que propiciem o progresso.
            
Acredito que a liberdade de expressão seja algo tão precioso, que valha grandes sacrifícios. No meu caso, a idade e o conhecimento que ela traz me obrigam a fazer o possível para que meus colegas, assim como todos os estudantes universitários, tenham acesso às mais variadas correntes de pensamento.
          
  Dentro dos meus limites, mas aderindo à audácia dos militantes ideológicos, procuro fazer uso da minha liberdade de expressão, assegurada pela nossa Constituição Federal em seu artigo 5º, IX,para pelo menos dificultar que a universidade seja para os jovens o que diz, sobre a mídia, José Arbex na apresentação do livro: "Padrões de manipulação na grande imprensa", de Perseu Abramo, cuja leitura é obrigatória no meu curso de jornalismo: "...Constrói consensos, educa percepções, produz "realidades" parciais apresentadas como a totalidade do mundo, mente distorce os fatos, falsifica, mistifica – atua, enfim, como um "partido" que, proclamando-se  porta-voz  dos "interesses gerais" da sociedade civil, defende os interesses específicos de seus proprietários privados.'' No caso da universidade seriam  os interesses dos que dela se apropriaram violentando inteligências vulneráveis.
 
Giselle Neves Moreira de Aguiar

Texto escrito em fevereiro de 2013

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