domingo, 20 de setembro de 2015

Entre jovens e policiais



As notícias, nos últimos tempos, têm se mostrado muito mais emocionantes e aterradoras do que os filmes de ficção, feitos para provocar emoções profundas apresentando muita violência e situações de  risco.

Nada se compara a uma cena mostrada num jornal da tarde, na TV, em que uma pessoa algemada  é jogada do alto de um telhado  ouvindo-se, em seguida, o tétrico som de tiros. Soma-se a essa outras, igualmente ou mais tenebrosas, nas quais o policial faz, na vida real, o papel de bandido.

No meu sexagenário baú de lembranças busco dados e luzes para tentar tecer uma narrativa que dê abrigo à mente e ao coração num ambiente cultural que poderia ser visto como um contínuo trailer virtual das cenas brutais vividas nos mundos árabe e europeu, onde a crueldade acontece fazendo os filmes de  violência explícita  parecerem contos da Carochinha.

 Sem querer ser saudosista, constato que tais notícias eram inconcebíveis na minha infância e juventude, quando preocupados em aprender, a produzir bens e a gozar as delícias saudáveis da vida, a imensa maioria dos jovens não seria capaz de imaginar cenas de tal calibre.  Naquele  tempo de sonho e de verdadeira luta, era  imensa  a  admiração sentida pela figura do professor, cujo nome da profissão soava como um título de grande nobreza, ainda que usasse um terno surrado ou uma camisa cuja cor mostrava que fora lavada e passada muitas vezes. Todas as professoras eram consideradas uma segunda mãe, às vezes mais rígida e exigente. Quando isso acontecia, era motivo de gratidão e sinal de eficiência. Os frutos falavam por si.

 O cenário de hoje, totalmente incompatível com o conhecido, parece ser o de um universo paralelo que acontece em filmes de ficção científica, onde  em tudo é igual ao nosso, porém, lá as coisas  acontecem de maneira invertida. Os bandidos são mocinhos e os mocinhos bandidos. Enquanto em um prevalece o bem, no outro, o mal impera por meio de violências em todos níveis.

A constatação de estar em outro mundo cujo mote é produzir dor, justificado por um eterno sentimento de vítima, não proporciona nenhum conforto. Qualquer alma forjada nos valores de antes sente um desejo de ajudar, a pelo menos diminuir a dor, que é sempre insuportável para  o ser humano, seja em si próprio ou no seu semelhante. Grita alto, no túnel do tempo, a frase de Montesquieu: A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos. Não deixa de ser um sentimento de autopreservação. Afinal, a humanidade é uma só, e qualquer desconstrução de sua estrutura natural é muito perigosa para todos.

A matéria publicada pelo "Diário de Sorocaba de, 18/09/2015, sobre um trabalho escolar  "que tinha o objetivo de levar a uma reflexão do quanto a polícia viola os deveres morais, éticos e legais em ações que contraíram a lei" feito por jovens do ensino médio, elucida muito.  Apresenta  o que pode ser um elo, uma etapa do trabalho de construção do tal universo paralelo dentro do nosso, onde tudo é mostrado com o sentido contrário. 

Assim, os pais não são aqueles seres que amam com amor incondicional, as autoridades são pessoas movidas pelas piores intenções, e o jovem, ainda quase adolescente, em pleno fulgor do vulcão hormonal, é induzido a acreditar em orientações que delineiam o nosso mundo como se fosse o seu inverso e perverso paralelo. 

A mentira proclamada a pessoas frágeis, e com a devida técnica,  vai se tornando real.  Desta forma, aos  poucos, os policiais viram bandidos. Talvez porque se tenham embrutecido por tanto enfrentar os sentimentos inoculados em nossos jovens, tão promissores, mas que não conseguem produzir nada além de protestos e revolta. O presságio é de que passem a produzir coquetéis molotov reais e virtuais, se dividindo em variadas espécies de black-blocs. O cenário, então, fica perfeito para o sombrio filme de terror, feito com a alta tecnologia  da engenharia social.

Giselle Neves Moreira de Aguiar


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